Liberdades criativas à parte, a verdade é que uma recém-estreada série televisiva portuguesa, de nome “Os boys”, que caricatura a ação de lóbi dos assessores de ministros e de políticos ministeriáveis, não resistiu à tentação de imaginar que uma cidadã chinesa, com autorização de residência em Portugal obtida graças à compra de um terreno com capacidade construtiva, consegue que o Governo de Portugal transfira a construção de um hospital público para o terreno que ela comprou, com claras vantagens para a investidora estrangeira e adivinhados prejuízos para Portugal e para os portugueses.

De passagem, no primeiro episódio da primeira temporada de “Os boys”, os vistos gold, ligados ao imobiliário, são apresentados como algo que serve de fachada a tráficos de influência, com aquisições imobiliárias cujo destino é determinado em função de interesses pouco claros, entre trocas de prendas que só são aceites depois de passarem pelo crivo dos destinatários – uma caricatura que será sempre vista como uma cópia exagerada da realidade quando, na minha opinião, está longe de corresponder a essa realidade. Digo-o em nome da minha liberdade em manifestar a minha opinião.

Esta história, por mais que se lhe cole aquela frase batida a esclarecer que qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência, já foi vista como sendo uma selfie do mercado e do programa dos vistos Gold. Eu próprio, que não tinha acompanhado a estreia da série “Os boys”, acabei por vê-la mais tarde, depois de ter sido alertado por algumas pessoas para a mensagem negativa sobre o programa dos vistos Gold que tinha sido passada. É pena pois este programa das autorizações de residência por investimento – que nem sequer se esgota nos investidores chineses –  é muito positivo para a Economia Portuguesa.

Coincidentemente ou não, o programa dos vistos Gold, que há muito vem merecendo, entre nós,  uma urgente dinamização, quase parece ter sido condenado a um limbo, como se fosse autêntico o tal retrato que “Os boys” mostraram, um retrato de um pecado mortal cometido por gente sem escrúpulos habituada a deixar lembranças de valor muito superior a 150 euros e a cobrar, na hora certa, essa generosidade. O programa de captação de investimento estrangeiro através da concessão de vistos Gold pode e deve ser transparente, estando nas nossas mãos que o seja.

É um programa que naturalmente interessa a quem quer investir com retorno e segurança, comparativamente a outros investimentos menos certos e seguros, e um programa que pode afirmar-se assim mesmo num quadro de sustentabilidade como é, desejavelmente, o caso das intervenções de Reabilitação Urbana também elegíveis para atribuição de vistos Gold. Não há razões para ter medo dos vistos Gold, bem pelo contrário, há razões para temer que o programa deixe de ser uma das locomotivas atuais do sector e, consequentemente, da dinamização da nossa economia.

Há também razões para temer que este programa esteja a ser alvo de preconceitos ideológicos, baseados em ideias feitas que tentam colar ao imobiliário rótulos negativos vagamente associados a vícios especulativos. Por obrigação associativa e por convicção estarei sempre disponível para desfazer tais equívocos, equívocos que, na prática, prejudicam a nossa própria recuperação negando a este sector um papel importante, num quadro de sustentabilidade também importante.

Luís Lima
Presidente da CIMLOP
presidente@cimlop.com

Publicado no dia 14 de Setembro de 2016 no Público

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