A questão da culpa que morre sempre solteira é um tema recorrente da nossa linguagem mediática, e mora, no que mais directamente nos atinge, em quem vendeu vales de caixa de caloteiros como produtos financeiros de primeira.
Nós devíamos ter desconfiado, em tempo útil, desses mais tóxicos do que milagrosos produtos financeiros, mas prevaleceu o pecado mortal da gula, próprio de quem pensa que as árvores crescem até ao céu.
Nem as árvores crescem até ao céu nem um vale de caixa significa que o valor nele declarado irá ser sempre reposto e no prazo prometido. Qualquer merceeiro de aldeia sabe disso e não cai no velho conto do vigário.
Conto que conta sempre com a ganância do vigarizado, como contou um tal comerciante, de nome Vigário, que terá comprado a um conhecido falsário notas grosseiramente falsas de 100 mil reis, pela quantia de 10 mil reis cada.
Dias depois, fingindo-se bêbado, dirigiu-se ao local onde jantavam dois comerciantes a quem devia um conto de reis (um milhão de reis), propondo-lhes pagar a dívida, em dinheiro, mais precisamente em notas de 50 mil reis.
Sempre como um ébrio, abriu a carteira sacando um maço de notas de 100 mil reis que começou a contar como se fossem de 50 mil reis, num total de vinte, as necessárias para pagar o conto de reis em dívida.
Os outros comerciantes, vendo no engano um ganho inesperado e fácil, guardaram de imediato as vinte notas e nem se deram ao trabalho de as voltar a contar, não fosse o Vigário reparar na diferença do valor facial.
Luís Carvalho Lima
Presidente da Direcção Nacional da APEMIP
Publicada dia 11 de Dezembro de 2010 no Expresso