Os funcionários do fisco, não sendo os mensageiros das más notícias, são o rosto da máquina implacável do Estado que está, nestes tempos difíceis, a penhorar ordenados e bens imóveis como nunca antes terá penhorado para grande desespero e revolta de muitos contribuintes.

A situação, face á ocorrência de vários casos de agressão a funcionários do fisco, inclusivamente com recurso a armas de fogo e protagonizados por cidadãos até então pacíficos, tendo em conta  os respectivos cadastros limpos, justifica que estejam a ser organizados cursos de defesa pessoal para aqueles trabalhadores.

Mais importante do que estas cautelas – justíssimas e oportunas até para chamar a atenção dos poderes e da opinião pública para situações imperdoáveis – é o facto de se provar como a austeridade a que a população portuguesa está a sofrer pode gerar situações sociais graves incontroláveis com todas as consequências que se adivinham.

Os rastilhos destas situações potencialmente explosivas, situações que, como recentemente se viu, já não se esgotam na ira mal dirigida dos contribuintes contra os inocentes trabalhadores do fisco (eles também pouco satisfeitos, sem subsídios de férias e de Natal), estes rastilhos estão a ficar cada vez mais curtos.

E quando coexistem condições objetivas e condições subjetivas que favorecem situações conflituosas não adianta dizer, como infelizmente é muito nosso costume, que “casa onde não há pão todos ralham e ninguém tem razão”. O importante, nestas situações limites, é precisamente evitar, a todo o custo, que se atinja o limite.

Luís Lima

Presidente da APEMIP

luis.lima@apemip.pt

Publicado no dia 07 de julho de 2012 no Expresso

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