Neste tempo de rastilhos curtos, qualquer expressão menos pensada, mesmo que não seja tão sensacionalista quanto possa parecer, pode incendiar a nossa serenidade tão necessária à recuperação do país e ao regresso ao crescimento, num desejável cenário de aumento do emprego capaz de contribuir para uma mais equilibrada distribuição da riqueza que entretanto consigamos gerar.

Como se não bastassem as notícias que abalaram Chipre e toda a Zona Euro, com a adoção de um imposto extraordinário sobre as poupanças, imposto que começou por não poupar ninguém nem os aforradores mais modestos, os aforradores que deviam ser premiados e não castigados, como se não bastasse esse susto voltamos a ouvir, entre nós, palavras tão assustadoras quanto a palavra bancarrota pode ser, ainda por cima proferidas por economistas de renome.

Como diz o poeta e cantor Chico Buarque de Holanda, “deixe em paz meu coração // que ele é um pote até aqui de mágoa // e qualquer desatenção, faça não // pode ser a gota de água”. É, de facto, precisamente isto, a gota de água, que temos de evitar a todo o custo. Sem esconder a gravidade da situação, mas mantendo acesa a chama da esperança e da confiança na nossa própria capacidade para superar a crise em que vivemos.

A força da palavra proferida por gente que tem autoridade científica, principalmente quando esta palavra pode ser muito ampliada nesta sociedade de modernas e poderosas tecnologias de informação, a força da palavra é muito grande e exige que saibamos usá-la com os cuidados que a situação impõe, isto é, com a certeza de que essa mesma palavra não irá incendiar rastilhos demasiado curtos.

Não podemos deitar tudo a perder na precipitação dos nossos julgamentos. A situação exige serenidade acrescida e exige cuidados extremos que não se compadecem com radicalismos que, por vezes, tocam as raias do infantil. Sem prejuízo do direito à nossa indignação, o equilíbrio frágil em que vivemos aconselha a que todos, sem exceção, meçam as respetivas atitudes e tomadas de posição públicas.

Numa Europa globalizada e armadilhada, em que cada Economia pode, subitamente, transformar-se num perigoso campo de minas, importa que cada um de nós, com particular relevo para os agentes económicos, saiba assumir o ânimo que reconhecemos existir nos bombeiros, que alguns chamam de soldados da paz, com propriedade, renunciando claramente à tentação do pirómano.

Para não enveredarmos pela tantas vezes evocada política da terra queimada, expoente máximo de muitos radicalismos que preferem condenar tudo e todos a salvar seja o que for, numa opção clara pelo chamado renascimento das cinzas, a partir do zero, solução que – sabemo-lo – não resgata, não inclui, não mobiliza e como tal, não é a solução desejável para todos, mesmo que pareça sedutora, à distância, para uns poucos.

Não podemos realmente esquecer que vivemos tempos de rastilhos curtos numa Europa que sempre se deu mal quando não soube contornar primeiros sinais de alarme, deixando que as divergências se agudizassem e assumissem proporções indesejáveis. Sejam elas quais forem.

Luís Lima
Presidente da APEMIP e da CIMLOP – 
Confederação da Construção e do Imobiliário de Língua Oficial Portuguesa
luis.lima@apemip.pt

Publicado do dia 25 de março no Diário Económico

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