Sendo questionado por jornalistas, quanto aos efeitos que as avaliações apertadas de algumas agências de rating sobre Portugal, podem acarretar para o sector imobiliário, respondo, quase invariavelmente, que o principal problema reside no encarecimento do preço do dinheiro.

As informações destas agências são, teoricamente, apenas indicativas, mas, ganharam um peso tal, que o simples facto de se pensar que este ou aquele país ou este ou aquele sector podem vir a sofrer uma apreciação menos positiva, é suficiente para gerar turbulências financeiras fortes.

Sabemos que estas agências são perigosamente falíveis. Ignoraram olimpicamente a crise financeira que se iniciou nos Estados Unidos, com avaliações elevadas no sector imobiliário, e, nem sequer viram que a Islândia caminhava para uma situação de bancarrota. Por outro lado, estão todas mais próximas dos Estados Unidos da América do que da Europa.

A vigilância e a regulação que será suposto existir sobre estas agências, não são conhecidas a ponto de evitar qualquer legítima dúvida quanto à fiabilidade do trabalho que desenvolvem, onerosamente e a pedido. Tudo ainda, insuficiente para que possamos ignorar o que tais estruturas ditam sobre a nossa própria credibilidade.

É que, diferentemente da mulher de César, basta parecer que somos sérios na hora de pagar dívidas. Nem é preciso sê-lo, basta parecer que sim, o que é preocupante por ser uma realidade virtual negativa com implicações no acesso ao crédito e, consequentemente, no desenvolvimento.

Luís Carvalho Lima
Presidente da Direcção Nacional da APEMIP

Publicado dia 28 de Abril de 2010 no Diário Económico

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