Sucessivas políticas erradas habitacionais em Portugal, nomeadamente as que assentaram na estranha imposição do congelamento das rendas, desertificaram e ajudaram a degradar o património construído dos centros das principais cidades, contribuindo para que, na hora dos primeiros booms habitacionais, a solução possível tenha sido a da promoção das periferias e até das periferias das periferias. 

Um país de alguns proprietários e muitos arrendatários transformou-se nos finais do século XX num país de muitos proprietários, por força do aliciamento que o Estado, interessado em construir menos habitação social, e as instituições financeiras, a experimentar novas áreas de negócio, faziam junto dos portugueses que procuravam casa. 

Isto explica que a Reabilitação Urbana tenha chegado tão tarde a Portugal, quando comparada com a Reabilitação Urbana em outros países da União Europeia, e explica que este fenómeno no centro das nossas principais cidades contribua para que estas se renovem com caracteristicas que também atraem turistas. A ideia de que podemos reabilitar para recriarmos as urbanizações do passado é uma utopia e uma utopia não necessariamente virtuosa. 

Uma utopia à qual não devemos ceder, como parece que o fazemos quando dizemos que as casas reabilitadas devem ser, pelo menos em parte, destinadas ao arrendamento urbano permanente, mesmo sacrificando os alojamentos locais e o que este negócio tem vindo a contribuir para dinamizar a nossa economia, através do Turismo. 

Esta tese diaboliza o Turismo e vai cimentado a ideia, para mim errada, que a nossa abertura a quem descobre que este país está na moda e apetece é potencialmente um erro, mesmo considerando o que de bom, para as nossas contas, tem a entrada de dinheiro estrangeiro. Não podemos querer ter turismo sem turistas e sem alojamento local. 

Também näo se impõe um mercado por decreto. A procura e a oferta não aumentam pelo simples facto de estabelecermos quotas para o alojamento local, para o alojamento permanente. Os mercados näo se fazem a régua e a esquadro. Os mercados erguem-se no encontro e no interesse de quem oferece algo que outro, interessadamente,  procura. Insistir em querer moldar um mercado como o do arrendamento pelo estabelecimento de quotas é estar fora da realidade. 

 

Luís Lima 
PRESIDENTE DO CIMLOP 
presidente@cimlop.com

Publicado no dia 16 de Agosto de 2016 no Diário Económico

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