Em regra, as soluções que se baseiam na mão de obra intensiva, barata e de baixos recursos, são típicas de países empobrecidos que tentam algum crescimento à margem das economias mais fortes. O exemplo das confecções e do têxtil português, que chegou a ser responsável por um terço das exportações de Portugal antes de cair para valores inferiores, é eloquente. 

Tendo perdido o comboio da modernização e do valor acrescentado em aspectos altamente competitivos, como é o caso do design e da moda, soçobrou no confronto global com países que conseguem milagres no que toca aos baixos salários e perdeu a importância que tinha no quadro das nossas exportações e da nossa balança comercial.

Parece pois, muito mais avisado repudiar, como aliás o fez o Senhor Presidente da República, as teses que defendem economias baseadas em baixos salários, apostando noutras vias para cumprir agendas de crescimento e de desenvolvimento que aumentem a nossa capacidade de gerar riqueza, de criar emprego e dinamizar mercados, também pela via da procura interna, opção incompatível com os baixos salários.

É também incerto que o desemprego possa resolver-se pela quebra de salários. Os efeitos que a quebra da procura interna provoca nos mercados pesam mais do que a eventual, mas não garantida, diminuição da taxa de desemprego que tal medida pudesse garantir. O desemprego é flagelo que tem de ser travado e anulado, mas a via adequada a tal tarefa terá de ser seguramente outra. Os salários, pouco elevados, que se praticam em Portugal nunca estiveram na base das nossas dificuldades competitivas e são receita já gasta.

Luís Lima

Presidente da APEMIP

Luis.lima@apemip.pt

Publicado no dia 16 de junho de 2012 no Expresso

Translate »