A maior fatia das 700 empresas que já fecharam portas neste ano de 2010, diz respeito a actividades ligadas à construção e ao imobiliário. Foram 182 pedidos de insolvência (154 da construção e 28 de imobiliário) contra os 177 pedidos feitos para a área do comércio, grosso e retalho.

Não sei, com rigor, a quantos postos de trabalho correspondem estas insolvências, mas sei que, em 2009 o sector da construção perdeu mais de 60 mil empregos, isto é, quase metade dos que tinha perdido em acumulado desde 2002. É um cenário que merece a nossa reflexão.

Sendo o segmento residencial aquele que emprega mais mão-de-obra neste sector, parece evidente que a reabilitação/regeneração dos centros urbanos, indispensável para travar a própria degradação prematura do património construído, é um dos caminhos a seguir com maior urgência.

Isto, sem esquecer que em matéria de reabilitação dos centros urbanos – onde existe mais de um milhão de fogos a carecer de obras profundas – estamos muito longe dos valores da Europa, onde este segmento é, actualmente, um dos mais significativos para a fileira da Construção e do Imobiliário.

O investimento nesta área reproduz-se mais rapidamente, e pode absorver uma parte significativa do desemprego, nomeadamente do desemprego menos qualificado, que é, como se sabe, mais difícil de solucionar e aquele que, tendencialmente se eterniza em longa duração.

As grandes obras públicas – importantes se estruturantes e como solução alternativa para a ausência do investimento do sector privado – não são assim tantas e, apesar da respectiva grandeza, não conseguem absorver tanta mão de obra já lançada para o desemprego.

Um sector como o da Construção e do Imobiliário que representa 18% do PIB, quase metade do investimento nacional e mais de 750 mil postos de trabalho, tem de ser, nestes tempos de aumento significativo da taxa de desemprego, mais e mais bem apoiado.

Recorde-se que, mesmo que os recursos públicos para minimizar os efeitos sociais desta realidade fossem imensos, o que não acontece, a eternização das situações de desemprego também contribui para a desvalorização do trabalho, enquanto valor estruturante das sociedades, perigo que não é desprezível.

E é sempre bom lembrar que, a retoma da nossa economia também passa pelo incremento do consumo interno, e este depende da capacidade das famílias e, obviamente, de uma menor taxa de desemprego, a exigir, simultaneamente, menor esforço público na área da segurança social.

Neste contexto, só posso concluir, reafirmando que temos de estar sempre a reconstruir e a perspectivar as nossas cidades e o nosso futuro – no sentido real e no sentido figurado do verbo reconstruir. Reconstruir sempre mais e mais e ininterruptamente.

Luís Carvalho Lima
Presidente da Direcção Nacional da APEMIP

Publicado dia 3 de Março de 2010 no Público Imobiliário

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