Embora o número de eurocépticos da moeda única esteja a crescer em quase todos os países da Zona Euro, a verdade é que este número continua a ser inferior a 50% em todos os países, incluindo em Chipre, onde as recentes trapalhadas com os bancos causaram sérios dissabores aos cipriotas. Por curiosidade, registe-se que 60% dos gregos estão a favor da União Económica e Monetária (leia-se moeda única do euro) número que em Portugal é de 52%.

O chamado inquérito da Primavera de 2013 do Eurobarómetro, que validou mil respostas de portugueses (1004 para ser mais preciso) teve, entre nós, como leitura principal, a posição relativa dos gregos e dos portugueses no posicionamento hostil face ao euro com a “surpresa” dos portugueses serem mais críticos do que os gregos, ranking que, presumidamente, deveria ser diferente, ou seja, os gregos deveriam estar mais zangados do que os portugueses.

Ainda há quem se lembre, e não são assim tão poucos, que a moeda de um euro (cotada sensivelmente a 200 escudos) é muito parecida com a antiga moeda de cem escudos portugueses e que a nota de valor facial mais baixo que o Banco de Portugal emitia à data da transição era de vinte escudos, ou seja cinquenta vezes inferior à nota de menor valor do euro que é, como se sabe, uma nota de cinco euros, ou seja, de mil escudos na nossa moeda antiga.

Num exercício muito do agrado dos departamentos de estatísticas poderíamos lembrar, por exemplo, que o sistema monetário norte-americano apresenta como nota de valor facial mais baixo um dólar, aquele conhecido bilhete verde  que ostenta a gravura do primeiro presidente dos Estados Unidos da América, George Washington, e as duas faces do chamado Grande Selo da nação, de um lado a conhecida águia e do outro a desconhecida pirâmide,  uma nota da reserva federal norte americana de valor cinco vezes inferior à nota mais baixa do euro.

Estas comparações ajudam a compreender como, entre nós portugueses, alguns preços de produtos mais correntes, sofreram aumentos muito significativos na passagem do escudo para o euro. O clássico café passou, de um dia para o outro, de 50 escudos para o dobro, ou seja, 50 cêntimos do euro. Quase sem se notar, pois mentalmente só fazíamos o câmbio entre o velho escudo e a moeda nova para transações mais volumosas.

Quanto às notas, é bom recordar que somos mais prudentes ao utilizar o dinheiro em papel, de maior valor facial, do que o dinheiro em metal, as moedas propriamente ditas, o que significa que os europeus podem ser mais “gastadores” do que os americanos – teórica e comparativamente o sistema de moedas e notas norte-americano travará mais o consumo do que o sistema de moedas e notas da moeda única europeia.

Sem esquecer a necessidade de ter sempre em conta o conceito de paridade de poder aquisitivo que o Fundo Monetário Internacional adoptou para comparar os níveis de vida dos diferentes países, sem os riscos das chamadas ilusões monetárias (um euro pode comprar mais bens num país do que noutro), será que podemos aceitar que, entre nós, a linha da pobreza se situe nos cinco mil euros ano, ou seja, pouco mais de 415 euros por mês?

Luís Lima
Presidente da CIMLOP
Confederação da Construção e do Imobiliário de Língua Oficial Portuguesa

Publicado no dia 29 de Julho de 2013 no Jornal i

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