Os números das dações de imóveis, ocorridas no terceiro trimestre deste ano, confirmam a tendência para estabilizar em baixa relativa como já se verificara no trimestre anterior, após o susto verificado no primeiro trimestre do ano, quando fomos obrigados a alertar publicamente para essa perigosa situação.

Esta notícia da manutenção das dações em valores inferiores aos assustadores números do primeiro trimestre é, apesar da gravidade que a situação traduz, uma boa notícia. Não sendo ainda possível erradicar este fenómeno que a ninguém interessa, seja ao menos possível estancá-lo em valores mais baixos.

Os números do terceiro trimestre são superiores aos do segundo trimestre mas estão bem abaixo do susto verificado no princípio do ano, quando este fenómeno disparou de forma que parecia completamente descontrolada. Nota-se também que a maioria das dações são provenientes da promoção imobiliária.

Embora, aparentemente, com menos risco de descontrolo, este fenómeno segue as linhas dominantes que identificamos quando o detectamos, ou seja, está a criar um ciclo vicioso que importa perceber bem para mais eficazmente o contornar, combater e anular. Por outro lado, consolidou a tese do primado da renegociação dos créditos sobre a solução, aparentemente fácil e rápida, da dação, solução esta que deve ser sempre a última e nunca a da regra.

A acumulação de imóveis como ativos indesejáveis criou uma carteira de produtos, inicialmente vistos como desvalorizáveis, cuja recolocação no mercado, a preços de ocasião, ajudou a desregular o próprio mercado dificultando ou inviabilizando a venda de muitos projectos da promoção imobiliária, alguns dos quais agora também devolvidos como dação.

Até as facilidades que os bancos oferecem, em matéria de financiamento, a quem queira adquirir as chamadas casas dos bancos estão a resultar menos, pelo simples facto de ser difícil que os interessados em tais oportunidades consigam encontrar quem lhes compre a casa que pretendem substituir, quando já são (como também acontece) proprietários de casa própria.

Esta transação, para a qual não há financiamento privilegiado, é igualmente fundamental que ocorra para que possa concretizar-se a aquisição da casa do banco pretendida. Uma transação depende da outra, começando a perceber-se que ambas precisam realmente de algumas linhas de financiamento para que o mercado funcione.

As próprias soluções comerciais que a banca portuguesa tem ensaiado, para recolocar as carteiras de imóveis que crescem continuamente, tendem também  para voltar a uma certa normalidade, com a entrega de tais ativos imobiliários às empresas de mediação imobiliária, até de forma transparente, protocolada e sistemática. Nesta matéria começam a aparecer sinais positivos, tímidos ainda mas positivos.

Luís Lima Presidenta da APEMIP e
Presidente da CIMLOP Confederação da Construção e do Imobiliário de Língua Oficial Portuguesa
luis.lima@apemip.pt

Publicado no dia 31 de outubro de 2012 no Público

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