A emissão de 3 mil milhões de euros de dívida pública portuguesa a 10 anos, num regresso de Portugal ao mercado primário, onde não entrava desde 2011, com uma procura superior à oferta a um juro na casa dos 5,65% é mais do que a notícia de que volta a haver, nomeadamente por parte de bancos centrais, de fundos de pensões e de companhias de seguros, disponibilidade para emprestar dinheiro ao país a preços razoáveis. 

Mas este regresso, num momento em que também os juros das dívidas soberanas portuguesa a dois e a cinco anos estavam a ser fixados no mercado em valores mínimos idênticos aos de Maio de 2010 e de Outubro de 2010, respetivamente, só pode ser realmente saudado como uma boa notícia se o financiamento mais barato inerente for extensivo às empresas portuguesas que podem criar emprego e gerar riqueza.

É que sem a inversão da tendência do desemprego, que tem vindo a subir de forma preocupante, sem a criação de mais produto, o que passa pela atividade das empresas portuguesas, Portugal não conseguirá pagar os empréstimos que está a contrair nem tendo em conta os valores favoráveis dos juros acordados. Com juros baixos ou muito baixos os empréstimos vão ter de ser pagos com que consigamos gerar.

A confiança externa registada nesta operação financeira de Portugal, toda ela sindicada e onde 86% dos investidores que compraram dívida são estrangeiros, é realmente muito importante, desde que possa repercutir-se no financiamento das empresas portuguesas, de forma realista e flexível, o que significa que o preço desse financiamento tem de ser igualmente favorável e os critérios de acesso pouco apertados.

Na verdade, com esta verdadeira travessia do deserto que muitas empresas portuguesas estão a suportar, há no tecido empresarial português muita empresa com capacidade de sobrevivência, desde que aceda a financiamento justo e que esta não lhe seja negado por condições particulares da própria empresa, incluindo ao nível de capitais e resultados, quando mais resultantes do momento que atravessamos do que da própria gestão empresarial.

Apertar os critérios de acesso ao crédito por parte das empresas, fazendo exigências próprias dos momentos de vacas gordas, é deitar por terra o feito que foi Portugal ter conseguido voltar ao mercado primário de dívida pública com a emissão dos 3 mil milhões de euros e aos juros já referidos. É que sem o emprego e a riqueza que as empresas portuguesas venham a ser capazes de gerar não haverá condições objetivas para honrar tal confiança e tais dívidas.

Mesmo num cenário continuado de juros baixos, também assumido pelo Banco Central Europeu (BCE) que desceu há dias a taxa de referência em 0,25 pontos percentuais fixando-a num novo mínimo histórico de 0,50%. Recorde-se que esta taxa do BCE, indicadora para muitas operações financeiras, estava fixada em 0,75% desde Julho de 2012, até há dias o valor mais baixo de sempre na Europa.

Falta, realmente um passo decisivo e indispensável – o de repercutir na Economia os êxitos das Finanças.

Luís Lima
Presidente da CIMLOP
Confederação da Construção e do Imobiliário de Língua Oficial Portuguesa
presidente@cimlop.com

Publicado no dia 17 de maio de 2013 no Jornal Sol

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