Durante anos e anos, algumas sensibilidades comerciais e políticas tentaram salvaguardar o chamado comércio tradicional, as velhas lojas de rua, tentando evitar o declínio a que estaria condenado, pelo florescimento e crescente esplendor de alguns centros comerciais onde há tudo e a temperatura é mantida sempre em valores amenos, de Verão ou de Inverno, faça chuva ou faça sol.

O tema da salvação do comércio tradicional foi, aliás, um dos temas mais badalados em muitas anteriores campanhas eleitorais para as autarquias locais (não na que acabou de ocorrer e que elegeu privilegiadamente, como foi público e notório, outras matérias) gerando até iniciativas muito curiosas de que destaco, pelo impacto, uma que fez abrir centenas de guarda-chuvas coloridos a simular um teto nas ruas mais comerciais.

Curiosamente, na mais luxuosa de todas as ruas de Portugal, na emblemática Avenida da Liberdade, em Lisboa, a disputa de espaços comerciais por parte das grandes lojas de marca, mostra que há comércio de peso interessado nessas joias do imobiliário em que se transformaram os rés-do-chão mais espaçosos e mais bem localizados da Avenida. Espaços difíceis de encontrar que fazem saltar os preços das rendas para valores acima das melhores expectativas dos respetivos proprietários.

Em Portugal também há uma procura de imobiliário que faz subir preços. Mesmo considerando que a Avenida da Liberdade é urbanisticamente muito mais imponente do que a badalada e paulista Rua Óscar Freire, a mais luxuosa rua comercial de São Paulo, é de referir como uma verdadeira requalificação esta procura do melhor de Lisboa por parte das principais marcas comerciais mundiais.

Neste segmento e nesta localização a oferta é muito menor do que a procura, o que faz com que os preços disparem, até pela agressividade comercial e poder económico de muitos interessados, mesmo considerando, como tem vindo a público, que até os maiores retalhistas, de marcas de topo, não estão dispostos a pagar qualquer preço, apesar de muitos deles poderem oferecer o céu.

Este fenómeno positivo de requalificação comercial da baixa de Lisboa é tal e tão significativo que algumas marcas fortes conseguiram, através de uma mediação eficaz e inteligente, arrendar espaços que já estavam arrendados a retalhistas menos vocacionados para este comércio de luxo, por via da mudança de localização das lojas menos interessadas na batalha dos produtos que marcam o comércio destinado a algumas elites.

Diz-se que a Prada demorou três anos a encontrar um espaço adequado em Lisboa e que a Dior está em fila de espera há quatro anos. Por exemplo na Avenida da Liberdade, no Chiado, na Rua Garrett, localizações cujo comércio está a requalificar a cidade, turisticamente e não só.  Cem euros por metro quadrado é – diz-se publicamente – um valor de renda comercial relativamente normal, nestas localizações, o que faz com que uma loja não muito grande, com cem metros quadrados, pague uma renda mensal de 10 mil euros. Nem tudo parece ser uma miséria franciscana e ainda bem.

Luís Lima
Presidente da CIMLOP
Confederação da Construção e do Imobiliário de Língua Oficial Portuguesa
presidente@cimlop.com

Publicado no dia 30 de Setembro de 2013 no Diário Económico

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