Se, assim de repente, três dos dez milhões de portugueses que vivem em Portugal resolvessem abalar para o estrangeiro, este país perderia muito mais do que 30% da população, perderia a quase totalidade do capital de esperança que cada geração oferece à Pátria onde vive.

 

Resisto à tentação de titular, de forma fácil, esta reflexão com algo do género “este país não é para novos”. Embora saiba que é absolutamente normal que seja entre os mais novos e entre os profissionais mais qualificados que encontramos percentagens tão elevadas de potenciais emigrantes.

Em especial num cenário onde o país não oferece, e não exclusivamente por não poder oferecer, perspectivas mínimas de fixação aos jovens mais capazes, nem mesmo já aos preços de saldos dos “quinhentoseuristas”, ou seja, a metade do valor que a jovem geração de licenciados em Espanha classificou de escandaloso e serviu para os baptizar de “mileuristas”.

Não exagero nos números. O netemprego.gov.pt, um portal do Instituto do Emprego e da Formação Profissional (IEFP), dá guarida a ofertas de emprego para licenciados com promessas de remuneração inferiores a 500 euros mensais. Julgo, porém, que recusará promessas inferiores ao ordenado mínimo nacional. Não confirmei, mas melhor fora.

E histórias como a do homem de 34 anos que esteve vários dias acampado nas Puertas del Sol, em Madrid, no chamado acampamento dos indignados, e ganhou 1,3 milhões de euros numa lotaria da internet são histórias raras e até poderão parecer inventadas para desviar atenções. São, pelo menos, pouco plausíveis para quem acredita que o futuro faz-se com as próprias mãos. 

Mesmo em países como o Brasil, cuja taxa actual de desemprego está abaixo da taxa dos países ricos e até da média mundial, pelo menos no que se refere às grandes regiões metropolitanas, a realidade é que, a dificuldade de ingresso dos jovens no mercado de trabalho tem vindo a aumentar constantemente, como aliás o testemunhou o jornalista e escritor Ignácio de Loyola Brandão  num livro  de 2011, que é “uma breve visão” sobre o “primeiro emprego”.

O que está realmente em causa, como refere o editor de Brandão, “é restituir o direito de cada jovem, de cada pessoa, a conquistar com o seu trabalho o seu lazer e o seu pão”. Preferencialmente na Pátria de cada jovem ou de cada pessoa. Talvez seja difícil, nomeadamente em Portugal, mas nenhuma política tem direito de desistir deste objectivo.

Luís Lima

Presidente da APEMIP

luis.lima@apemip.pt

 

Publicado no dia 8 de Julho de 2011 no Sol

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