No ano passado, dizem os números sempre frios, quase três quartos dos portugueses viviam sem capacidade para pagar todas as despesas do mês. Os meses foram, para esses portugueses, sempre demasiado longos para tão escassos rendimentos.

Com o aperto fiscal  e com a quebra das prestações sociais por parte do Estado essa percentagem vai, objetivamente, aumentar no corrente ano, com picos dramáticos na hora da chegada do aviso para o pagamento do Imposto Municipal sobre Imóveis (IMI), imposto que chega à maioria das famílias.

O expediente da diluição em duodécimos do que ainda resta em matéria de subsídios legais, para quem trabalha por conta de outrém, já não será suficiente para gerar, virtualmente, uma sensação de alívio junto desses trabalhadores, sensação que, subjetivamente, seria muito importante.

A percentagem das famílias que reconhecem que o rendimento mensal disponível é insuficiente para  satisfazer as despesas fixas tem vindo a aumentar significativamente – em 2009 rondaria os 60%, percentagem que desde esse ano ainda não parou de subir.

Tirando um período relativamente curto, ocorrido nos primeiros anos do atual regime democrático, em que o aumento generalizado das remunerações dos portugueses correspondeu a um aumento da qualidade de vida,  com férias e Natal folgados, estes dois subsídios rapidamente se assumiram como balões de oxigénio para equilibrar os longos meses de magros rendimentos.

Compreende-se que sem estas almofadas mais ou menos semestrais – subsídio de férias no Verão e subsídio de Natal no Inverno – o difícil equilíbrio financeiro das famílias portuguesas esteja a ser posto em causa para cada vez mais famílias, algumas das quais estão já a recorrer a poupanças acumuladas ao longo da vida, ou seja, às clássicas reservas para uma necessidade súbita.

Julgo que os relatórios dos economistas não projetam de forma adequada estas circunstâncias subjetivas que são, no mínimo, tão importantes como as objetivas. É que esta realidade contagia, quebrando-a,  a confiança que uma sociedade deve manter no seu presente e no seu futuro e esta sensação de incerteza acaba por se refletir em tudo, em todos os mercados e em toda a gente, até naqueles, poucos, que chegam ao fim do mês com saldo positivo.

Acresce que os rendimentos do trabalho referentes ao presente mês de Janeiro, o primeiro deste malfadado ano de 2013, ainda não puderam “beneficiar”, por questões processuais,  do regime dos duodécimos. Para muitos portugueses a folha de Janeiro vai ser a pior de há muito tempo. E estou apenas a referir-me ao universo dos portugueses que estão a trabalhar, na Economia formal  e recebem ordenado.

Se juntar a tudo isto a realidade que vivem os portugueses que estão no desemprego, o retrato atual deste país volta a ser um retrato a preto e branco (P/B)  de um país triste. É importante ter isto também em conta.

Luís Lima
Presidente da APEMIP e Presidente da CIMLOP – 
Confederação da Construção e do Imobiliário de Língua Oficial Portuguesa
luis.lima@apemip.pt

Publicado no dia 06 de fevereiro de 2013 no Público

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