O retrato social de Portugal que o Gabinete de Apoio ao Sobre-endividado da DECO revela no boletim estatístico do primeiro semestre de 2015 não é um retrato de cores agradáveis. Este gabinete tem recebido todos os dias, em média, 100 pedidos de ajuda para resolver situações de sobre-endividamento, ocorrências cujas principais causas são o desemprego, a deterioração das condições laborais e, pela primeira vez nas três primeiras, as penhoras.
Este gabinete da DECO alerta para o facto da situação financeira das famílias portuguesas ter vindo a agravar-se, revelando que mais de 30% dos pedidos de apoio que lhe chegam são de famílias já confrontadas com a penhora dos seus bens e rendimentos.
Outro sinal muito preocupante, é o do aumento das dificuldades entre os reformados. Os pedidos de ajuda oriundos deste sector estão a crescer e representam já 16% do total de pedidos de auxílio que em 2015 chegaram à DECO. Na base desta tendência, a redução das pensões, a acumulação de dívidas próprias e dos filhos, neste caso por terem sido fiadores dos filhos ou por estarem a recebê-los de volta em casa.
Ao desemprego, ainda a primeira causa desta situação, segue-se um regresso ao mercado de trabalho em situações mais desfavoráveis, com rendimentos muito inferiores aos que tinham antes do desemprego, seja pela redução de horas extraordinárias, pela extinção de comissões ou mesmos por cortes dos vencimentos. Muitos portugueses estão a ver-se gregos.
Outra leitura fundamental para olharmos com olhos de ver para este retrato social é a da percentagem total de rendimentos, por agregado familiar, relativamente à população de consumidores sobreendividados que tem vindo a solicitar apoio ao referido gabinete da DECO – 45% auferem entre 505 e 1010 euros mensais e 23% entre 1010 e 1500 euros. É claramente a classe média a ser atingida em força.
No topo da pirâmide, correspondente a rendimentos mensais superiores a 1500 euros, a percentagem registada é de 18% e na base da pirâmide social (rendimentos inferiores a 505 euros) a percentagem atingida é de 14%. Isto – repito – no universo de quem pede ajuda à DECO, um universo representativo.
Comparativamente aos anos de 2014 e 2013, os dados já contabilizados no primeiro semestre de 2015 apontam para um aumento dos pedidos de negociação referentes a outras dívidas para além das dívidas resultantes de contratos de crédito. Já não é só o crédito para habitação, o crédito automóvel ou o crédito pessoal mas agora também, com peso relativo, outras dividas devidos por fornecimento de eletricidade, de gás e de água, por serviços de telecomunicações e de condomínio e até dividas contraídas em farmácias.
Neste retrato nítido mas escuro que os dados que chegam à DECO permitem traçar verifica-se que, em média, 65% por cento do rendimento das famílias vai para alimentação, electricidade, água, gás e habitação, 12% para transportes (passe, combustível, portagens, seguros automóveis) e 7% para telecomunicações (televisão, telefone e internet). Se juntarmos os dez por cento da soma dos gastos com a Saúde e com a Educação, sobram seis por cento para o resto que incluiu impostos e as chamadas despesas pontuais.
É mesmo um retrato com muito pouca cor e que urge retocar com urgência.
Luís Lima
Presidente da CIMLOP
Confederação da Construção e do Imobiliário de Língua Oficial Portugal
presidente@cimlop.com
Publicado no dia 27 de Julho de 2015 no Jornal i