O rigor e o conhecimento são fundamentais em qualquer projeto. Seja ele um projeto de investigação científica, seja um projeto de correção económica, seja um projeto de informação e de divulgação da informação. O trabalho de pensar qualquer trabalho deve ser exaustivo para que todos os cenários sejam tidos em conta, com rigor.

No lado oposto estão os clichês. Em rigor, clichê, no sentido figurado e segundo a definição mais acessível, é uma ideia muito batida, uma fórmula muito repetida de falar ou escrever, um chavão. Seguramente uma ideia que pode revelar pouco conhecimento e muito pouco rigor, com todas as consequências inerentes.

Como podemos ilustrar a ideia do crédito mal parado? Em Portugal, como ainda há dias pudemos comprovar, o clichê mais comum é o do uso e abuso de imagens de prédios em construção, cujas obras pararam ou estarão a meio. O que, de todo em todo, pode hoje não corresponder minimamente ao que está a acontecer.

Na realidade, a construção em Portugal já bateu onde, alguns que não eu, dirão que devia ter batido, e o imobiliário, também associado à construção, está a ser, cada vez mais, um esteio da recuperação económica que ensaiamos. Neste contexto, é pouco rigoroso e revela pouco conhecimento da nossa realidade apresentar estes sectores como ou maus do crédito mal parado.

A propósito de pouco conhecimento, tenho de sublinhar uma avalizada, posto que crítica, opinião de um conhecido e muito mediático militante do principal partido da coligação segundo a qual a intervenção da Troika em Portugal pecou por desconhecer a realidade do país e por pensar que a nossa economia era idêntica à de outros povos da Europa.

Para esse historiador e comentador político (antigo líder parlamentar), um conhecimento aprofundado de Portugal teria evitado que sectores importantíssimos para a conservação de emprego (como a construção e a restauração) deveriam ter sido resguardados do brutal assalto fiscal que sofreram – o desemprego não teria atingido os valores que atingiu.

O que se perderia em receitas poderia ter sido compensado de outra maneira e os ganhos sociais resultantes do travão ao desemprego teriam sido fundamentais para a recuperação geral. Realmente, rigor e conhecimento são fundamentais em qualquer projeto.

Luís Lima
Presidente da CIMLOP
Confederação da Construção e do Imobiliário de Língua Oficial Portuguesa
presidente@cimlop.com 

Publicado no dia 13 de Julho de 2015 no Diário Económico

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