Trezentos anos antes do 25 de Abril, em 1674, a “Bandeira” de Fernão Dias, aventurou-se pelo território brasileiro, hoje denominado de Minas Gerais à procura de Sabarabuçu, a chamada serra resplandecente, montanha que se imaginava toda de ouro e prata e esmeraldas.

Esta incursão de Fernão Dias e seus seguidores demorou sete anos, anos que terão sido mais de povoamento do que de descobrimento do ouro e das pedras preciosas que motivavam os bandeirantes destas aventuras das “bandeiras”, homens que construíram cidades como a Vila Rica, hoje Ouro Preto.

Em 1697, a produção de ouro em Minas Gerais atingiu os 115 kg mas 42 anos depois, em 1739 subia para 10 toneladas, quando a Coroa Portuguesa já exigia 20% de tudo o que era produzido – o chamado quinto – riqueza que ajudou ao fausto de D. João V de Portugal (“ai, quanto veludo e seda, e quantos finos brocados!”) e a financiar grande parte da revolução industrial… inglesa.

Eis alguns aspectos, pouco conhecidos da nossa história comum, que não se repete, muito menos depois da emancipação total dos povos e do olhar global e de cooperação que mantemos, ou devemos manter, quando nos olhamos no  espaço da lusofonia que começamos a marcar nesse tempo.

Hoje, o ouro do Brasil é a capacidade de investimento desta potência sul-americana , uma das grandes economias do Mundo que possui, na Europa, uma especial porta de entrada, chamada a porta de Portugal, agora sem a obrigação de receber “quintos” seja de quem for, mas com a necessidade de se mostrar como um destino de investimento  seguro e credível.

Nós, profissionais da mediação imobiliária da Associação de Profissionais e Empresas de Mediação Imobiliária de Portugal (APEMIP), apontamos, há muito, este caminho da internacionalização baseada na mesma língua, como uma das vias para uma profícua cooperação económica entre os países lusófonos. Até contra os que nos acusavam de anti-europeísmo.

Na verdade, só nos assumimos como europeus dignos deste nome quando soubermos olhar para outras paragens, por exemplo para África e para a América, sem os preconceitos eurocêntricos de passados, felizmente já muito passados, na troca justa do que podemos oferecer e do que desejamos encontrar num quadro bilateral de investimentos estrangeiros directos.

Em 1674, trezentos anos antes da ruptura interna que nos devolveu à Europa e nos aproximou de África e da América do Sul, não soubemos encontrar, à primeira, Sabarabuçu, a serra resplandecente que procurávamos. E quando a descobrimos não soubemos potenciar, mesmo à luz da época, a riqueza descoberta.

Hoje, voltamos a navegar para Sul, olhando, a bombordo a costa de África, na esperança de que Sabarabuçu possa também localizar-se aqui, neste rectângulo de terra à beira mar plantado, um espaço que espera novas oportunidades e que espera gerar oportunidades noutras paragens.

É isso que nos tem movido, agora menos isolados do que quando começamos a olhar para o Mundo lusófono com outros olhos. Menos isolados mas ainda sem os apoios que legitimamente deveríamos ter pelo simples facto de erguermos esta nova “bandeira”.

Luís Carvalho Lima
Presidente da Direcção Nacional da APEMIP

Publicado dia 20 de Outubro de 2010 no Público Imobiliário

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