Os números da nossa balança comercial com Espanha relativos aos primeiros quatro meses do corrente ano são claros – estamos a vender mais (mais 3,9%)  mas também estamos a comprar mais (mais 8,6%) do que em idêntico período do ano anterior. O aumento das nossa vendas ficou a dever-se ao sector têxtil, em especial às confecções, em contraste com as exportações de petróleo e seus derivados que foram já muito mais fortes do que agora e responsáveis pela fatia de leão das nossas vendas.

É curioso verificar que o sector têxtil era, à data do 25 de Abril de 1974, um dos principais sectores exportadores, respondendo por mais de 30 por cento das nossas exportações. Então assente numa estratégia industrial baseada numa mão de obra intensiva, o sector viria a cair significativamente, não apenas pela perda de competitividade que a ausência de outras mais valias (design, moda) determinou, mas também pela perda dos mercados africanos que absorviam a produção clássica.

A crise que se seguiu no têxtil, com situações muito dramáticas nomeadamente a Norte, viria a ser superada, gradualmente, pelo abandono das estratégias de mão de obra intensiva e pela consequente modernização, bem como pela incorporação das mais valias que as procuras mais exigentes requerem. Hoje, relativamente ao importante mercado de Espanha, o têxtil, muito pela via das confecções, é, segundo a leitura dos números vindos a público, um dos motores do crescimento das exportações.

Esta capacidade de inverter uma situação desfavorável deve ser evocada como um exemplo quando estamos a registar, de acordo com números nacionais do Instituto Nacional de Estatísticas e europeus do Eurostat, um dos maiores défices comercias da Europa comunitária, só ultrapassado pelo Reino Unido, pela França, pela Espanha e pelo Grécia, e muito distante das boas balanças da Alemanha, da Itália ou até da Irlanda. E deve ser evocada para não cairmos na tentação de culparmos a retoma do consumo privado e a aquisição de bens duradouros pelo desequilíbrio registado.

O que temos de apostar é no aumento das nossas vendas ao exterior, desafio que também passa pelo sector imobiliário, que também “exporta” e muito, em especial pela via do turismo residencial mas não só, como aliás é bem conhecido. Reafirmo, por exemplo, que uma reabilitação séria e profunda dos centros urbanos é uma ponte para novos pilares do mercado imobiliário português, nomeadamente no que respeita à dinamização do mercado de arrendamento urbano e também do imobiliário turístico, neste caso muito virado para a própria internacionalização do sector. 

Se o têxtil português, que passou por uma forte crise nos anos 80 do século passado, conseguiu superar-se incorporando mais valias fundamentais para a sua renovação, também o imobiliário (como desejavelmente outros sectores) tem de saber reinventar-se e aproveitar as excelentes condições que Portugal pode oferecer nos mercados externos como país moderno, acolhedor, atraente e competitivo. 

É preciso saber ler bem nas oscilações das balanças comerciais.

Luís Lima
Presidente da CIMLOP
Confederação da Construção e do Imobiliário de Língua Oficial Portuguesa
presidente@cimlop.com

Publicado no dia 05 de setembro de 2014 no SOL

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