A tese judaico-cristã que diz ser mais fácil ver um camelo (nome dado a um dos cabos das antigas amarrações de navios) passar pelo buraco de uma agulha do que um rico entrar no reino dos céus já não mobiliza, como mobilizou, populações inteiras de crentes que se resignavam a sobreviver, esperançados nessa promessa de uma vida melhor numa outra vida, promessa seguramente inválida para os poderosos que no Além irão penar no fogo eterno do Inferno.

Até o Papa Francisco admite o caracter simbólico e de matriz literária que existe nessa ideia de um inferno de fogos permanentes, o que também dificulta quaisquer  orientações religiosas que possam dar força a uma aceitação passiva e resignada de uma vida, neste Mundo, ou seja, neste Mundo globalizado, pautada pela permanente austeridade inevitável quando os rendimentos são escassos e provêem de trabalhos cada vez mais precários, ou quando, não sendo escassos, são muito fortemente penalizados em sede fiscal.

Quando os impostos castigam tão fortemente os rendimentos do trabalho, a par da clássica gula da fiscalidade sobre o património, pouco importa aliviar ou carregar nos impostos sobre o consumo que este vai retrair-se, retraindo os mercados internos e gerando o desânimo, quando não a revolta e nunca a resignação, de uma classe média sem a qual nenhuma economia cresceu e contribuiu para um  efectivo desenvolvimento sustentado. 

Como diz o papa Francisco, “todas as religiões são verdadeiras, porque elas são verdadeiras nos corações de todos aqueles que acreditam nelas”, mas nem todas contribuem da mesma forma para que a Economia tenha o Poder de proporcionar às populações uma vida pela qual valha a pena viver. Nem todas reconhecem que a criação de riqueza e a sua distribuição, mesmo que mais generosa para alguns do que para outros, é sempre um sinal de Deus.

Um dos perigos de se procurar obsessivamente receitas na fiscalidade sobre os rendimentos é a desvalorização do próprio trabalho. Valerá a pena quando o que gera nem para a sobrevivência chega? Reduzir as Economias à competição das balanças comerciais não gera salvação.

Luís Lima
Presidente da CIMLOP
Confederação da Construção e do Imobiliário de Língua Oficial Portuguesa
presidente@cimlop.com

Publicado no dia 23 de junho de 2014 no Diário Económico

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