O Santo António e o São João foram, este ano, santos muito populares no Algarve. O Santo António, feriado em Lisboa, calhou a uma segunda feira, e como o 10 de Junho também é feriado, muitos lisboetas puderam fazer umas mini-férias de quatro dias e rumaram ao Algarve

O santo do Porto – São João – não ficou atrás e por ter calhado na sexta-feira da semana que recebeu a quinta-feira do Corpo de Deus gerou, nessa cidade, umas mini-férias  de igual duração às que o Santo António ofereceu aos lisboetas. O resultado, em ambas as pontes, foi uma enchente do Algarve.

É caso para se dizer que os santos da casa, às vezes, entre nós, também fazem milagres. Sem qualquer dúvida, pelo menos no que respeita à legitimidade com que atribuímos a naturalidade do Santo António a Lisboa (e não a Pádua, que os italianos já têm santos que chegue) e a do São João ao Porto.

Mas apesar de serem santos e santos tão populares, em Lisboa, no Porto e também no Algarve, não estão sempre disponíveis para patrocinar esta boa estrelinha para o turismo português, a celebrar, este ano, o centenário da criação da primeira estrutura turística nacional.

Tampouco farão pressões para que a instabilidade se mantenha por muito tempo no Norte de África, na sequência das chamadas revoluções de veludo, instabilidade que fez desviar muito fluxo turístico para outros destinos, incluindo o nosso pais, onde a estabilidade social ainda não depende da vontade da Moody’s.

Dependesse essa mais valia da Moody´s e de outras agências de notação norte-americanas na moda, e nem Santo António, nem São João nos valeria. Só São Pedro, desde que arranjasse aos portugueses uns lugares de adjunto de porteiro do céu a distribuir, preferencialmente pelos porteiros algarvios no desemprego.

Ironia à parte, o que pretendo dizer é que esta situação favorável não dura eternamente sendo mais do que necessário que trabalhemos no sentido de fixar parte da clientela que foi “obrigada” a escolher outro destino e optou por Portugal nessa segunda escolha.

O segredo de uma operação turismo bem sucedida não está no impulso inicial, está na capacidade de manter parte do fluxo inicialmente gerado, transformando-o não numa segunda escolha mas numa escolha racional e conscientemente assumida como sendo agora a primeira. 

Este é o nosso desafio e tem de ser alcançado sem santos populares milagreiros de casa a ajudar.

Luís Lima

Presidente da APEMIP

luis.lima@apemip.pt

 

Publicado no dia 15 de Julho de 2011 no Sol

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