Os juros que pagamos pelo dinheiro que pedimos emprestado, é como as temperaturas elevadas de um corpo humano, vulgo febre: se são muito altas estamos doentes e até podemos morrer. 

Dos três países europeus, doentinhos, que tiveram de dar entrada nos Hospitais do Banco Central Europeu (BCE) e do Fundo Monetário Internacional (FMI), só a Irlanda começa a registar juros “normais”.

Os nossos juros ainda estão muito elevados e mais altos do que estavam quando reconhecemos que tínhamos de pedir ajuda, embora sem atingir os valores, quase a roçar o limite vital, dos juros que a Grécia suporta.

Estamos entre a Grécia e a Irlanda, não geograficamente, entenda-se, mas culturalmente, o que contraria um pouco a tese de Alan Greenspan, para quem, nós e os gregos são países gastadores do Sul.

O antigo presidente do Banco Central dos Estados Unidos, em artigo publicado no Financial Times, diz que os do Sul têm de poupar mais, de gastar menos e de investir a médio prazo, como os do Norte.

No artigo, Alan Greenspan não refere especificamente a Irlanda, mas deduz-se que o “tigre celta” poderá ser já um dos prudentes países do Norte e não um dos gastadores países do Sul.

O economista fala claramente em duas euro zonas, uma a Norte e outra a Sul, e diz que uma subsidia a outra, reescrevendo a história da nortenha formiga e da sulista cigarra, sem grande simpatia para com a última.

Há um certo maniqueísmo nesta teoria de Alan Greenspan. Sem esquecer a convicção, romana, segundo a qual é mais fácil um camelo (aqui referindo um cabo de amarração) passar por um buraco de uma agulha do que um rico entrar no Reino dos Céus, diferente da posição daqueles que, mais protestantes, dizem que a riqueza terrena é um sinal dos favores de Deus.

Se olharmos para o mapa da divisão que Greenspan quer fazer na Europa, veremos que os mais endividados e aqueles que mais juros pagam são os que, historicamente, mais resignados se mostram face às vicissitudes deste Mundo, esperançados num outro Mundo imensamente melhor.

Sendo certo que, devemos olhar um pouco mais longe, não é menos verdade que há algum fundamento nestas subjectividades. Está na nossa mão alterar esta evitável inevitabilidade. Na verdade todos nós queremos ser discretos (palavra que também significa inteligência) como os irlandeses.

Luís Lima

Presidente da APEMIP

luis.lima@apemip.pt

Publicado no dia 12 de Outubro de 2011 no Jornal de Notícias e no Diário de Notícias

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