Não havendo quem, realisticamente, possa admitir como plausível a possibilidade de aparecer um novo Marquês de Pombal capaz de rasgar, por cá, boulevards como os que o Barão de Haussmann rasgou, às ordens de Napoleão, numa Paris medieval, não se adivinhando, no caso da cidade do Porto, o renascimento do Almada, resta partir para a reabilitação / regeneração dos centros urbanos, preferencialmente quarteirão a quarteirão.
Como, ainda há pouco tempo, escrevi para uma revista especializada em temas do sector imobiliário, de distribuição mais restrita, o Porto, foz e começo de um dos mais belos rios da Europa, o Porto oitocentista, docemente rasgado por Almada, está a pedir uma profunda reabilitação e regeneração, que não lhe roube a alma nem o encanto atlânticos, que transformam a cidade num potencial mercado residencial turístico.
Nesta cidade, às vezes esquecida, às vezes relegada para um plano periférico, o desafio que o mercado imobiliário atravessa na transição do ciclo da quantidade para o ciclo da qualidade implica, definitivamente, uma aposta na reabilitação e regeneração urbanas, como uma das mais adequadas e seguras saídas para este sector, num quadro de um imperativo desenvolvimento sustentado.
Repito o que tenho vindo a dizer, até à exaustão, sobre estas matérias: a internacionalização do nosso mercado imobiliário, desafio em que a Associação de Profissionais e Empresas da Mediação Imobiliária de Portugal (APEMIP), a que presido, está profunda e eficazmente empenhada, também passa por uma oferta de qualidade na área do residencial turístico, área que tem todas as condições para se afirmar numa cidade com os pergaminhos da cidade do Porto, se se optar claramente pela reabilitação urbana.
O duplo desafio de reabilitar e regenerar cidades com história e alma, no já referido quadro de desenvolvimento sustentado, é, também uma clara resposta às exigências de uma procura mais sofisticada e consciente, procura que, no entanto, não se satisfaz exclusivamente, pela qualidade da reconstrução e reabilitação do património. Só que temos de começar por algum dos lados, e este, é, talvez, o mais fácil, não havendo condições de nos rasgarmos em boulevards mais ou menos parisienses.
Luís Carvalho Lima
Presidente da Direcção Nacional da APEMIP
Publicado dia 5 de Junho de 2010 no Jornal de Notícias