Num quadro de crédito estrangulado, como o que se vive em Portugal, o risco de recessão cresce, com todas as consequências normais e inerentes. Podemos estar a caminhar para um descrédito total, na ilusão de estarmos apenas a apertar o cinto e a ser austeros.

Na discussão pública do Orçamento de Estado que está a marcar o nosso dia-a-dia mediático, começam a levantar-se algumas vozes a alertar para esta realidade e para os perigos de olharmos mais para a forma do que para o conteúdo.

Forma e conteúdo não andam, há muito separadas, mas neste contexto, a forma aqui representada pela fórmula de equilibrar as contas públicas não pode trair o conteúdo que se materializa na necessidade de gerar crescimento e desenvolvimento económicos.

É bem verdade, como dizem especialistas insuspeitos, que o agravamento da carga fiscal, o cancelamento dos investimentos públicos e a redução de salários vão ter um impacto, pela negativa, no consumo, com um abrandamento da procura interna a reflectir-se em toda a actividade económica.

Tudo isto conjugado pode agravar os riscos de recaídas recessivas. Num quadro de difícil acesso ao crédito por parte das pequenas e médias empresas e de difícil financiamento por parte das grandes empresas e dos Estados, as perspectivas podem ser pouco animadoras.

Para quem não é economista torna-se, muitas vezes mais fácil, perceber que a Economia só funciona realmente se tiver em conta as pessoas a quem se dirige e interessa. Também poderá dizer-se que o Economista que só sabe de Economia nem de Economia sabe.

E o que sabemos, sem ceder a demagogias mais ou menos fáceis e tentadoras, é que o dinheiro, num fluxo vital semelhante ao do sangue que corre no sistema circulatório de um ser humano, tem de fluir na nossa economia para que ela se reanime.

Que importa que as transfusões de “sangue” sejam mais baratas se os bancos de sangue estão quase sempre fechados. A Sul, como por exemplo no Brasil, o dinheiro é mais caro mas circula, e, está em muitas áreas disponível, e os resultados em números de crescimento estão à vista.

Nestas contas, como cada vez mais em todas as demais, a transparência é uma regra de ouro que temos de integrar em todas as nossas opções. Não é por muito madrugar que amanhece mais cedo. Tampouco melhoramos se tentarmos esconder as nossas debilidades.

Vivemos um quadro muito claro – em Portugal, se a torneira do crédito continuar fechada para o tecido empresarial português, nomeadamente para as pequenas e médias empresas que são a base da nossa economia, corremos riscos graves, incluindo o da recessão.

Temos de evitar este descrédito.

Luís Carvalho Lima
Presidente da Direcção Nacional da APEMIP

Publicado dia 9 de Outubro de 2010 no Jornal de Notícias

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