Portugal regressou aos mercados numa operação que parece ter sido preparada ao milímetro até mediaticamente. Mantido em segredo, quase ao estilo das operações militares que invadem as séries de televisão mais animadas, este regresso foi antecedido de um não menos surpreendente pedido de alargamento dos prazos para o pagamento dos empréstimos concedidos pela Troika  e conseguiu que a procura excedesse em muito a oferta e, cereja em cima do bolo, que os juros ficassem abaixo dos 5%.

Embora quase todos os leitores saibam, recordo, para alguém eventualmente mais distraído, que Portugal conseguiu colocar 2,5 mil milhões de euros em Obrigações de Tesouro que vencem  em Outubro de 2017, feito que não era tentado desde que Portugal pediu ajuda financeira externa. Os juros abaixo da barreira dos 5% e a elevada procura parecem ter acendido a luz ao fundo do túnel como agora é comum dizer-se. Falta saber o preço da energia que alimenta essa luz.

Marco “absolutamente histórico” nas palavras do presidente da Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal (AICEP), Pedro Reis, ou “sinal encorajador a mostrar a luz ao fundo do túnel”, nas palavras de Guido Westerwelle, ministro dos Negócios Estrangeiros de Angela Merkel, esta operação tem o mérito de afrontar as próprias agências de rating sempre muito céticas em relação a Portugal.

Como comentou o presidente do BES, Ricardo Salgado, um dos aspetos positivos desta operação foi, sem dúvida, a vitória que ela representa sobre as sentenças negativas que as agências de rating reiteradamente aplicam a Portugal. “Fomos para o mercado com uma subscrição brilhantíssima sem precisar de uma melhoria do rating”, sublinhou Ricardo Salgado em declarações citadas na Imprensa.

Este aspeto particular é ainda mais significativo se nos recordarmos que uma dessas agências preconizava há poucos dias a urgência de uma desvalorização de 13% no mercado imobiliário português. Um disparate que só se compreende à luz de interesses de terceiros na aquisição do nosso património, construído a um preço de segundos saldos. Um disparate que pode ser combatido de forma mais eficaz depois deste regresso.

Mas a operação “Regresso aos Mercados” que marcou a semana passada não será o sucesso apregoado se, como referiram deputados da maioria, se esgotar na emissão de dívida. Importa que este impulso faça com que a própria banca e as empresas, em especial as pequenas e médias empresas, possam também ir aos mercados para se financiarem a juros equilibrados.

Será por aqui, pela Economia, pela possibilidade de se criar mais emprego e riqueza, que devemos avaliar o sucesso de operações deste tipo. Vencer é querer e poder trabalhar, gerando a riqueza necessária para satisfazermos os nossos compromissos, seja junto de quem nos emprestou dinheiro seja junto de quem acredita que somos um Estado Social.

Se o sucesso deste regresso não for acompanhado de medidas que claramente indiciem vantagens para a população portuguesa que mais tem sofrido com a crise, então não passará de um flatus vocis, ou seja, de um esforço sem sentido. E não há nada de mais terrível para um país

Luís Lima
Presidente da APEMIP e Presidente da CIMLOP – 
Confederação da Construção e do Imobiliário de Língua Oficial Portuguesa.
luis.lima@apemip.pt

 

Publicado no dia 30 de janeiro de 2013 no Público

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