Em janeiro de 2017, aquando da minha tomada de posse para mais um mandato à frente da Associação dos Profissionais e Empresas de Mediação Imobiliária de Portugal (APEMIP), disse publicamente que no panorama atual, estavam já reunidas as condições necessárias para que o sector da construção voltasse a ser incentivado, uma vez que se começavam a esgotar os ativos imobiliários, sobretudo nos centros das cidades, fazendo com os preços praticados estivessem a ultrapassar o que seria desejável.

Atualmente, já são algumas as vozes que se levantam para corroborar esta solução, tal como o senhor Presidente da Câmara Municipal do Porto, Rui Moreira, que, quando questionado sobre qual a solução para a especulação imobiliária em resultado do crescimento da atividade turística, foi perentório em responder que a solução passa pela oferta de habitação no mercado.

A opinião do Presidente da Câmara do Porto, vai ao encontro daquela que é a vontade do mercado, que exige o regresso à construção nova para dar resposta às necessidades da procura e assim aliviar os preços da habitação que se estão a praticar, devido à escassez da oferta que se começa a verificar.

Depois de, nos anos de crise, termos vivido um período em que quem dominava o mercado era a procura, agora este domínio passou para lado da oferta, tal é a insuficiência de imóveis disponíveis no mercado. A dinâmica do sector espelha-se na rapidez em que os negócios são concretizados. De acordo com o Barómetro Imobiliário da APEMIP, mais de 80% dos imóveis transacionaram-se em menos de seis meses, quando, há cerca e dois ou três anos, chegavam a demorar mais de dois anos a ser comercializados.

Mas esta dinâmica está a ser prejudicada pela estagnação que se vive no sector da construção. No ano passado, por exemplo, foram licenciados 13.918 fogos para construção nova, praticamente 1/10 dos fogos construídos em 2001, uma quebra que começa a ter efeitos no mercado, pois a procura imobiliária tem-se sobreposto à oferta existente, o que tem impacto nos valores de oferta que está cada vez mais desadequada às necessidades da procura da grande maioria das famílias portuguesas.

E desengane-se quem pensa que será o mercado a resolver por si só os problemas habitacionais que se estão a criar, devido à escalada de preços tanto do lado da compra e venda, como do lado do arrendamento, que faz com que muitas famílias se encontrem numa situação em que não têm nem condições para comprar nem para arrendar.

É por isso necessário que haja uma intervenção do Estado, quer por via do poder central, quer por via das autarquias. Neste aspeto, Rui Moreira dá o exemplo, considerando a alteração do Plano Diretor Municipal para permitir uma edificabilidade maior, sobretudo junto das zonas bem servidas de transportes públicos, realçando que terrenos não faltam e que ao edificar estas zonas se estará também a criar mais emprego no sector da construção.

Há que perder o medo de apostar na construção nova. Nos dias de hoje, o regresso a este mercado será feito de uma forma muito mais responsável, pensada e baseada em estudos de mercado que demonstrem que há procura para a oferta proposta.

 

Luís Lima

Presidente da APEMIP

luislima@apemip.pt

 

Publicado no dia 28 de março no Jornal Público

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