Há sempre um caçador que é amigo da onça, como aquele recriado por Péricles de Andrade Maranhão, cartoonista do jornal “O Cruzeiro”, aquele que sempre acrescentava uma dificuldade aos cenários mais negros das histórias que ele própria idealizava para confrontar todos os outros.

O que faria se estivesse na selva e, de repente, aparecesse uma onça? Dava-lhe um tiro? E se não tivesse arma de fogo? Espetava-lhe uma faca? E se não tivesse faca? Batia-lhe com um pedaço de pau? E se não tivesse pedaço de pau? Subia a uma árvore? E se não houvesse árvore por perto?

Irritado, um amigo que estava a ser alvo desta sucessão de hipóteses, cada uma mais difícil de superar do que a anterior, cortou a conversa, concluindo que, afinal aquele suposto amigo era muito mais amigo da onça. E assim terá nascido esta expressão que também se aplica aos que são mais amigos das agências de rating do que do país.

Os amigos das agências de rating não podem negar que o PIB português cresceu 1% até Março, face ao trimestre anterior, e 1,7% em termos homólogos, de acordo com o mais recente relatório da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), numa evolução que, nos actuais 31 países da  OCDE, só foi superada  pela Coreia do Sul (1,8%), pela Suécia (1,4%) e pelo Japão (1,2%). Não podem negar a notícia, mas, podem ignorá-la.

E, no entanto, é elementar que uma novidade desta natureza, num contexto como o que vivemos, seja objectiva e subjectivamente muito importante para consolidar confianças indispensáveis ao esforço que temos e devemos fazer no sentido da superação das nossas debilidades, debilidades na verdade menos acentuadas do que alguns querem fazer crer.

Nem o governador do Banco Central Alemão, Axel Weber, visto como provável sucessor do presidente do Banco Central Europeu (BCE), Jean-Claude Trichet , se escusou a elogiar, publicamente, os esforços que Portugal, e outros países da Zona Euro, estão a desenvolver no sentido de uma consolidação sólida (as palavras são de Axel Weber) das contas públicas.

Valham-nos também estas ajudas externas, importantes para nos dar ânimo à tarefa de resistir e superar os desafios com que nos confrontamos, desafios mais difíceis quando são agravados pela acção dos muitos amigos das agências de rating, que por aí andam travestidos de onças.

Publicado dia 11 de Junho de 2010 no Sol

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