Na semana passada ficamos a saber, surpreendentemente pela voz do próprio Ministro das Finanças, Vitor Gaspar, que o Eurogrupo vai solicitar à Troika “que trabalhe em conjunto com as autoridades portuguesas durante o quinto exame regular do programa” apontando para que o processo de ajustamento em curso prossiga rumo ao sucesso.

Dias antes, Miguel Frasquilho, vice-presidente do Grupo Parlamentar do PSD considerava, em plena Assembleia da República, que a Troika deveria alargar os prazos para que Portugal atinja as metas orçamentais inscritas no memorando, na linha da opinião expressa pelo Professor Marcelo Rebelo de Sousa para quem é fundamental fazer tudo para alongar o prazo do programa da ajuda externa.

Se lembrarmos que também o Senhor Presidente das República, em declarações recentes sobre este assunto, disse “que essas matérias serão com certeza objeto do diálogo e da reflexão que o Governo português juntamente com a Troika irá fazer no final de Agosto”, quase podemos adivinhar que o prazo para atingirmos as metas orçamentais do memorando irá mesmo ser alargado neste Verão.

Na verdade, eu desconfio que esta súbita e anunciada generosidade (espero poder chamar-lhe assim, embora não tenha muitas certezas da justeza desta denominação) pode também ser vista como uma resposta necessária para a urgência que os diretórios europeus começam a ter no sentido de que alguma das receitas prescritas para a atual crise das dívidas soberanas dê finalmente certo.

É que conciliar receitas de austeridade com agendas de crescimento económico parece ser deveras muito difícil, num quadro de elevado endividamento a juros também elevados, embora também comece a ser vital que haja um só país que seja onde estes reajustamentos estruturais resultem e não sejam contraproducentes aos olhos de quem mais sente e sofre os efeitos de tais remédios – o cidadão médio que também é, ou deve ser, um consumidor médio.

Será que este Portugal está condenado a ser o país onde as receitas da Troika vão, finalmente, ser comprovadas e apresentadas como sendo as receitas certas e adequadas para reequilibrar alguns eventuais excessos passados? Pela dimensão do nosso país e pela dimensão da nossa própria dívida externa, apostar em nós será talvez menos caro, em caso de erro. E às vezes – como parece estar há muito sobejamente comprovado – é preciso pagar para dar certo, pois deixar que as coisas possam dar para o torto custaria muito mais. 

Se for assim como penso, talvez possamos escrever no fim deste ensaio económico, em que vivemos, não um exuberante final feliz (já não finais felizes) mas uma sóbria apreciação tipo “Sucesso Q.E.D.” , ou seja “Quod Erat Demonstrandum”, a expressão latina para a frase tão desejada – “como queríamos demonstrar!”

Luís Lima

Presidente da APEMIP

Luis.lima@apemip.pt

Publicado no dia 16 de julho de 2012 no Diário Económico

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