O pragmatismo dos finlandeses não se esgota na estratégia de uma das mais consagradas marcas de telemóveis, marca cujo nome sempre soou mais japonês do que finlandês, para gáudio dos próprios fabricantes que assim julgavam beneficiar da boa imagem nipónica em matéria de artefactos electrónicos.
Não precisaremos de recuar muito mais para lembrarmos as dificuldades que, durante a Guerra Fria, aquele jovem país terá passado, encostado ao gigante soviético, um enorme “urso” que durante muitos anos duvidou da existência do Pai Natal e, o que era pior, que o Pai Natal vivesse na Finlândia.
O que não terão passado os finlandeses para convencer os russos da então União Soviética da insignificância do Pai Natal e, principalmente, da insignificância do Pai Natal ter escolhido uma cidadezinha finlandesa para montar o seu negócio, tão capitalista e como tal tão potencialmente desagradável aos vizinhos.
Precipitações de uma jovem nação, cujo povo e cuja língua, há escassos dois séculos, eram dominados por outros povos que sobre eles exerceram uma colonização cultural intensa, talvez ainda hoje visível ou, pelo menos, com algumas sequelas. Isto ajuda a compreender a fixação que parecem ter em Portugal.
O conhecimento da História é sempre útil, especialmente em épocas de crise. Nós, portugueses, somos tão antigos que até já vivemos crises, como a de 1383-1385, que são alvo de múltiplos estudos e que mostram a nossa capacidade em enfrentar dificuldades, tantas vezes superando divergências internas.
É, aliás, o que se desenha, no presente momento, em que muitos “condóminos” deste jardim à beira mar plantado parecem dispostos a privilegiar o que os une, para juntos, enfrentarem os grandes desafios do momento. Há sinais nesse sentido, a juntar situação e oposição.
Por muito que doa aos finlandeses que insistem naquela grosseira tentativa de humilhar este país da periferia, agora através de um jogo electrónico em que o rei de Portugal esbanja dinheiro a rodos, em carros de corrida, com a “certeza” de poder contar sempre com um resgate de terceiros.
Esta cega obsessão finlandesa por Portugal é tão doentia que até ignora que deixamos de ser Reino para nos transformarmos numa República há mais de um século. Por muito que doa, repito, aos finlandeses, nós saberemos enfrentar os desafios que temos pela frente, mas ao nosso ritmo que não é, seguramente, o da Valsa Triste do finlandês Sibelius, por mais bela que seja.
Luís Lima
Presidente da APEMIP
luis.lima@apemip.pt
Publicado no dia 29 de Junho de 2011 no Público