A derrota que a selecção de Portugal sofreu frente à da Grécia, em Lisboa, na final do Campeonato Europeu de Futebol de 2004, está longe de ser tão marcante e traumatizante como a que o Brasil sofreu frente ao Uruguai, na Copa do Mundo de 1950, num jogo disputado no Estádio Municipal do Rio de Janeiro, o celebérrimo Maracana.

A verdade é que, durante anos, Portugal congratulava-se, quando a Grécia evitava que ocupássemos o último lugar do ranking dos países europeus em vias de desenvolvimento. Poder dizer “ainda estamos à frente dos gregos” tinha um sentido nacionalista tão necessário quanto pudesse puxar pelo nosso optimismo e amor próprio, mas, nem esta memória fez com que perdoássemos a Atenas a derrota que sofremos no Estádio da Luz.

Hoje, o nosso síndrome helénico é outro. Olhamos para a outra periferia da União Europeia, receando que sobre nós caia a austeridade que se abate sobre os gregos, num processo político cuja democracia ainda se lembra da última ditadura e que corre sérios riscos de conhecer uma implosão social com manifestações preocupantes para muitos, para quase todos os sectores da sociedade.

As tragédias, incluindo as que se denominam tragédias gregas e que se assumem como uma representação teatral que visará provocar a catarse dos espectadores, parecem provar, precisamente por esta última finalidade, que nós gostamos muito de testemunhar o sofrimento, pelo menos quando este possa ser teatralizado.

Só que, até no teatro esta distanciação tem limites. Os espectadores não são sempre só espectadores, mesmo se e quando admitem identificar-se, emotivamente, com as acções a decorrer em palco. Muitas vezes, modernamente, podem ter de ser também actores e de participar no espectáculo, o que faz toda a diferença.

No contexto desta alegoria, direi que está muito nas nossas mãos, enquanto actores, mais do que enquanto simples espectadores, intervir na condução do rumo que queremos e podemos dar ao nosso país para evitar que a nossa representação teatral se transforme numa clássica tragédia grega, à qual já nem sequer faltam os coros, quase sempre de natureza muito crítica e agoirenta.

Temos, todos nós, de evitar os estilos de representação das clássicas tragédias gregas, para evitarmos o destino que alguns coros destinam á Grécia, principalmente quando algumas vozes parecem querer dizer que estamos a vermo-nos bem gregos, o que nem sempre terá de ser uma inevitabilidade.

Luís Carvalho Lima
Presidente da APEMIP
luislima@apemip.pt

Publicado dia 3 de Junho de 2011 no Sol

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