Imaginar Portugal, ligado ou não à Espanha, como no romance de Saramago, a transformar-se numa jangada de pedra que se afasta da Europa e navega para Sul , pelo Atlântico, com África a bombordo e o Brasil pela frente, não é, estou em crer, a melhor imagem.

Mais do que uma jangada que se afasta da Europa, temos o dever e o direito de ser terra firme, capaz de aguentar um dos pilares da ponte imaginária que devemos e podemos ajudar a erguer, numa ligação deste velho Continente, a que sempre pertencemos, a África e à América do Sul.

Ligação naturalmente de natureza cooperativa e económica, de mútuo benefício, que aproveite, no nosso caso e relativamente a Angola, ao Brasil e a Moçambique, para citar apenas três espaços lusófonos, as sinergias da nossa língua comum e cimente uma globalização mais humanizada, equilibrada e justa.
Exportar sim, mas o que possamos produzir aqui, com qualidade, ou pela via dos investimentos externos que consigamos captar, seja em mercados que ainda podem crescer e são seguros, como o imobiliário, se pensarmos na Reabilitação dos Centros Urbanos e no turismo residencial.

Nunca, ou pelo menos com alguma parcimónia, a nossa inteligência, aqui formada, a juventude que vive a inquietude de quem tem vinte e tantos anos e sente crescer uma vontade de experimentar, de mudar, de ser protagonista da mudança e de fazer um Portugal melhor, mais reconhecido e mais apetecido.

Nunca, por considerarmos que aqui, na nossa própria casa, podemos sentir a solidão do exílio e imaginar, erradamente, que, lá fora, não há outras Pátrias acolhedoras para quem é jovem e nada estrangeiro. Como se o estrangeiro continuasse a ser, como há meio século, apenas um lugar bom para ganhar dinheiro.
Aqueles portugueses que podem hoje dar corpo a uma nova emigração são, como os demais, dos que mais fazem falta aqui, seja a dar um outro destino, diferente e de elevadíssimo valor acrescentado, aos excedentes da cortiça, seja a investigar na dimensão nas características e potencialidades de variadíssimos materiais, seja a fazer sei lá o quê em que queiramos ser também bons.

Este é um discurso que não podemos abdicar, mesmo que, pontualmente, possamos ter alguma compreensão para a emergência dos que sempre acabam por sair, muito por culpa nossa que não conseguimos convencê-los a ficar ou que não soubemos criar condições para que eles ficassem.

Mais do que evocar o lado de navegador aventureiro da nossa alma, importa acarinhar a matriz de empreendedor e essa eterna sabedoria adquirida que faz de nós sedutores embaixadores dos nossos próprios empreendimentos. Este é que deve ser o nosso privilegiado relacionamento com o estrangeiro.

Luís Lima

Presidente da APEMIP

luis.lima@apemip.pt

Publicado no dia 20 de Janeiro de 2012 no Público

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