Quando corre a notícia do possível relançamento da privatização da TAP, ainda sem data mas publicamente assumido como sendo desejável que ocorra ainda este ano, julgo oportuno refletir sobre o papel que uma companhia aérea de bandeira pode desempenhar em qualquer estratégia de crescimento económico.
Como em tempos referi, neste mesmo espaço, mesmo privatizada, uma empresa como a TAP pode ser determinante para as estratégias económicas pois a venda de uma empresa publica desta dimensão implica acordos, que podem estender-se para lá do momento da venda, entre quem compra e quem vende.
A principal mais valia da TAP reside no facto de ser uma companhia de bandeira com rotas firmadas num espaço económico de forte crescimento, nomeadamente em ligações entre Lisboa e destinos de forte crescimento como o são Angola, Brasil e Moçambique. Foi nos céus da lusofonia que a TAP cresceu, afirmando-se e ajudando a crescer as economias dos países que falam Português.
Sabe-se da importância das navegações marítima e aérea, bem como a dos portos e a dos aeroportos, na dinamização das economias, e, por inerência da importância das companhias áereas que são mais do que empresas sustentáveis e capazes de gerar lucros objectivamente contabilizáveis no deve e haver das respectivas contas.
Sabemos também – com alguma mágoa – que a TAP não tem capacidade para investir, como afirmou o secretário de Estado dos trnasportes, Sérgio Monteiro, justificando a urgência da respectiva privatização, já anteriormente ensaiada mas sem sucesso, aparentemente por falta de garantias bancárias por parte do único interessado.
Falta saber se temos, ou não capacidade negocial para garantir, por um período razoável, num quadro de privatização, total ou parcial, que a companhia aérea mantenha a filosofia das suas operações aéreas no seu espaço natural, um espaço que coincide com algumas das linhas de força da nossa expensão económica para o exterior.
A TAP – é minha convicção – valerá sempre mais se se mantiver fiel às rotas da lusofonia em cujos céus cresceu e vendê-la pode ser inevitável, mas alienar o valor subjectivo que ela foi acumulando a favor do país que serve é certamente um erro que devemos evitar a todo o custo.
O valor padrão não é igual para todas as companhias aéreas e não exclusivamente pelos lucros, ou pelo número de aviões que possuem, ou pela quantidade de passageiros e de carga que transportam, ou pela percentagem de voos que se efetuam dentro dos horários. O contributo para o desenvolvimento dos destinos que servem não pode ser ignorado.
Não o ignoramos, por exemplo, relativamente à Ryanair, uma companhia de low cost que muito tem contribuído para o desenvolvimento do Norte do país e do Algarve, como poderemos ignorá-lo relativamente à TAP que voa para muito mais longe, nomeadamente nos céus da lusofonia?
Eis um tema que deve merecer a reflexão o mais aprofundada possível de todos nós que nos habituamos a olhar para a TAP como a nossa companhia aérea. Só podemos vender asas se garantirmos a continuação dos nossos voos fundamentais.
Publicado no dia 9 de Agosto de 2013 no SOL