Ter um banco de “bandeira” é tão importante como ter uma companhia aérea de “bandeira”. Não é irrelevante que um banco seja público ou privado. Mais ainda, não é irrelevante que o principal banco de um país e um dos principais bancos de toda a comunidade em que se está inserido seja público ou privado, no caso de Portugal público.

Tal como numa companhia aérea de “bandeira” em que as rotas dos voos, componente fundamental da exploração comercial, podem ser decididas tendo em conta as estratégias de desenvolvimento económico do país, também um banco de “bandeira” pode decidir, sem constrangimentos, estratégias de maior apoio à Economia.

Neste sentido, o folhetim Caixa Geral de Depósitos que, felizmente, chegou ao fim sem as rupturas que se anunciavam e que, a concretizarem-se, teriam sido desastrosas, neste sentido a luz verde de Bruxelas para uma solução urgente que o impasse na Caixa exigia deve merecer o mais alargado aplauso.

Uma crítica legítima seria a que se baseasse no excessivo tempo que foi utilizado para encontrar uma solução para o impasse. Mas alcançada essa solução, com mais ou menos administradores, a hora é de arrancar decididamente, colocando o banco de “bandeira” a actuar ao serviço da Economia.

Com a enorme vantagem de, sendo também o principal banco português, poder influenciar, por contágio, outras instituições financeiras que possam ter de aceitar estratégias mais evidentes de apoio à Economia, porventura ainda não adoptadas em nome de interesses, igualmente legítimos, mais privados do que públicos.

A recapitalização da Caixa Geral de Depósitos foi autorizada pela Comissão Europeia, culminando negociações entre o Governo e a Comissária Europeia da Concorrência, Margrethe Vestager, podendo atingir um máximo de 4,6 mil milhões de euros, 2,7 mil milhões dos quais directamente injectados com dinheiros públicos.

Esta última verba é, compreensivelmente, um investimento feito pelo principal accionista da Caixa Geral dos Depósitos e não uma ajuda de Estado como alguns preconizavam, o que é importante pois não será registada como despesa pública, ficando assim de fora do défice orçamental. Aumentará a dívida mas não aumentará o défice.

Mas, supõe-se, que aquelas respostas publicitárias bem conhecidas para perguntas também conhecidas (“Onde vai encontrar a sua nova casa? Quem leva o seu negócio ao êxito além-fronteiras?”) vai finalmente poder corresponder melhor ao que se ouve na publicidade ao maior banco português – “Na Caixa. Com Certeza”, “a Caixa. Com Certeza”.

E isto é ter um banco de “bandeira” como quem tem uma companhia aérea de “bandeira”. Obviamente um banco público, o que aliás também contribuirá para manter a maioria parlamentar que suporta o actual Governo e, em consequência, a própria estabilidade da legislatura, desafio importante para o próprio país. 

Especialmente se a Economia voltar à velocidade que se deseja, à velocidade que o desenvolvimento sustentável impõe, um desenvolvimento que carece também das tais certezas que a Caixa agora tem mesmo de dar. Sem demoras que o país e os portugueses não podem esperar muito mais.

 

Luís Lima
Presidente da CIMLOP
presidente@cimlop.com

Publicado no dia 3 de Setembro de 2016 no Sol

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