Se eu fosse cartoonista desenhava Ângela Merkel a brincar com dinheiro, sentada num monte de euros do Banco Central Europeu, arremedando aquela imagem do Tio Patinhas numa caixa forte a rebentar pelas costuras de tanta nota amealhada. Foi isso que fez, por outras palavras, o vice-presidente da Comissão Europeia, Olli Rehn, ao advertir a Alemanha para o superavit comercial excessivo agravado por uma retração da procura interna.

Esta imagem de velha avarenta que Olli Rehn indiretamente está a colar a Ângela Merkel, a toda-poderosa chanceler alemã, assenta-lhe que nem uma luva. As declarações de Rehn antecederam a decisão da Comissão Europeia de iniciar uma análise profunda a este desequilíbrio, um desequilíbrio que pode não resultar exclusivamente da capacidade alemã e de uma elevada produtividade e que pode ser tão grave para a Europa como os desequilíbrios de sinal contrária.

A “investigação aprofundada” em torno do superavit comercial da Alemanha foi anunciada com antecedência, a começar no blogue do próprio vice-presidente da Comissão Europeia, Olli Rehn, espaço de reflexão que não, seguramente, tão privado como se julgará, sabendo-se que pertence a alguém cujas opiniões não podem ser desligadas da figura publica de quem as profere. Neste blogue, Olli Rehn insistia na necessidade de Berlim estimular a procura interna em benefício da zona euro.

A Alemanha, a maior economia da zona euro, tem registado um superavit comercial superior a 6% do seu Produto Interno Bruto (PIB) todos os anos desde 2007, realidade que deverá continuar a marcar a Europa pelo menos até 2015. Esta situação tem vindo a gerar críticas generalizadas, incluindo dos Estados Unidos da América, que acusam Berlim de pouco fazer para inverter a crise do Euro. Berlim nunca gostou deste tipo de críticas e tem dito que tal não passa de uma manifestação de inveja.

Berlim e Paris voltam a ser países decisivos para a recuperação do crescimento e do emprego na Europa. Para não ser vista como Tiângela, a versão feminina do Tio Patinhas, a chanceler alemã tem de ir mais longe do que dizer que é tudo uma ciumeira pegada para que não se julgue que a crise do Euro é dinheiro em caixa em Berlim.

Luís Lima
Presidente da CIMLOP
Confederação da Construção e do Imobiliário de Língua Oficial Portuguesa
presidente@cimlop.com

Publicado no dia 18 de novembro de 2013 no Diário Económico

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