Quem lida com pessoas que não ligam ou ligam pouco à política, ou que, o que ainda é pior e infelizmente muito vulgar, assumem posições políticas com o entusiasmo dos mais ferrenhos adeptos de futebol, quem abarca no seu leque de conhecimentos gente tão variada, percebe como o “politiquês” de muitos comícios, de muitos debates e de muitas análises políticas afasta, em vez de chamar, muitos cidadãos.
E, no entanto, a política devia ser algo que interessasse à maioria das pessoas, na exacta medida em que existe, ou deve existir, para melhorar as condições de vida das próprias pessoas, num relacionamento colectivo obrigatório, entre a esfera pública e privada, que deve ter a preocupação de responder a questões que cada um possa, legitimamente colocar com a esperança de obter uma solução, no mínimo, politicamente justa.
A nossa própria linguagem, isto é, a linguagem das pessoas comuns, não exclusivamente políticas, deixa-se influenciar pelo “politiquês” quando abordamos temas públicos e isto ainda cava um fosso maior entre os protagonistas da política e todos os demais fieis, esse enorme exército de cidadãos que apenas espera que as coisas não corram muito mal, independentemente de comparecer ou não às eleições.
Nós (talvez devesse dizer eles para ser um pouco mais rigoroso), alguns de nós apenas queremos saber, por exemplo, se o imposto sobre os imóveis vai agravar muito ou se, como seria justo, as casas que muitos de nós adquiriram com enorme sacrifício para habitação própria serão poupadas a esse agravamento fiscal, um agravamento que ameaça incidir sobre situações fiscais que, em alguns casos, já estão no limite.
Também alguns de nós, entre os quais aqueles que canalizaram as poupanças das suas vidas para adquirir um imóvel, que destinavam ao mercado de arrendamento na esperança de que o rendimento assim alcançado pudesse servir de complemento de uma reforma, ou mesmo da própria reforma, gostaríamos de saber se tais rendas irão ter uma taxa fiscal autónoma ou entrar, em sede de IRS, à taxa do respectivo contribuinte?
Disto, e também naturalmente da urgência em agilizar os processos de resolução de contratos de arrendamento que se extinguiram por não pagamento de rendas (a tal prometida rapidez em desalojar os que ocupam casas ilegitimamente), disto depende o sucesso de qualquer acção tendente a acelerar a reabilitação dos nossos centros urbanos. Para muita gente, apesar do imperativo ético do projecto, gastar dinheiro na reabilitação só se o gasto puder vir a ter retorno.
Até é provável que isto esteja contido nos programas políticos. Talvez até muito mais, como, por exemplo, incentivos à reabilitação (naturalmente indirectos, isto é, apenas pelo desagravamento do peso fiscal em produtos ou serviços) ou outros.
Mas o que realmente importa é saber traduzir o “politiquês” tal qual se fala e isto não está a ser conseguido.
Luís Carvalho Lima
Presidente da APEMIP
Publicado dia 25 de Maio de 2011 no Público Imobiliário