A opinião do Dr. António Horta Osório, o português que preside ao Lloyds Banking Group, sobre o escândalo do caso Banif é mais do que justa e merece ser tida em conta se quisermos que a confiança dos portugueses sobre a política em geral e sobre a regulação financeira em particular não sofra mais um duro golpe – o caso é realmente chocante e tem de ser explicado, disse o banqueiro lembrando que cada família portuguesa volta a ser chamada a apagar este fogo, pagando uma média de mil euros por família.

Sabia-se que o Banif estava em maus lençóis e que tinha recorrido à ajuda de uma linha europeia da ordem dos 700 milhões de euros, entre capital e obrigações convertíveis. Mas também se sabia que o Estado Português detinha a maioria das acções, o que torna muito mais estranho que, de repente, seja necessário injectar cerca de três mil milhões de euros. É, como disse o Dr António Horta Osório, muito dinheiro para nos podermos dar ao luxo de ignorar o que falhou para chegarmos a esta delicadíssima situação.

Em nome de uma confiança muito abalada, é difícil não aceitar uma auditoria independente que, ainda para usar as palavras do prestigiado banqueiro português presidente do Lloyds, “mostre aos contribuintes portugueses exactamente que negócios foram feitos que originaram esta injecção de capital no banco, que créditos foram concedidos e não foram pagos”, ou seja , “o que realmente aconteceu entre a gestão do banco, a supervisão e os accionistas”. É o mínimo devido a quem volta a ser chamado a pagar, sem ter culpas no cartório.

O que Portugal dispensa é estar a descobrir, caso atrás de caso, que há o péssimo hábito de varrer o lixo, incluindo o que é tóxico, para debaixo dos tapetes, numa desresponsabilização inaceitável e numa atitude que ignora a inteligência e os direitos daqueles que são sempre chamados a pagar e em nome de quem tudo é feito, para ao bem e para o mal – os contribuintes portugueses. O sector imobiliário, construção incluída, que precisa do apoio do sistema financeiro para se reafirmar como esteio da recuperação, não aguenta muitos mais golpes destes.

A confiança exige mais transparência. Se faz favor (SFF).

 

Luís Lima
Presidente da CIMLOP
presidente@cimlop.com

Publicado no dia 28 de Dezembro de 2015 no Diário Económico

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