A recente evolução política do país, com a rejeição na Assembleia da República de um pacote de medidas apresentado pelo Governo, com a consequente demissão do próprio Governo e com a quase inevitável convocação de eleições legislativas antecipadas, sendo matéria privilegiada da esfera dos partidos, onde, em Democracia, reside, embora não exclusivamente, a maior fatia da actividade política, desejavelmente cívica, a recente evolução política do país é matéria que merece uma reflexão alargada.

Sem prejuízo de reconhecer aos partidos o primado desta reflexão e a eficácia das soluções a desenvolver, sinto que devo, como dirigente de uma associação de empresas cuja actividade é relevante para a Economia, manifestar a minha preocupação, que é também a preocupação de muitos outros empresários, pela possibilidade real do país correr o risco de iniciar  um período de férias forçadas de mais de três meses.

No contexto dificílimo, interno e externo, que estamos a viver, a procura de uma unidade nacional, de base mínima, parecia-me claramente desejável e sem que se confundisse com soluções unanimistas forçadas a lembrar o tempo da União Nacional e de outros regimes de partido único, a Leste e a Oeste. Mas a opção encontrada parece apontar noutro sentido.

Ainda há dias, respondendo a um inquérito sobre a possibilidade da realização de eleições antecipadas em Portugal, disse que uma tal opção – esta da exclusiva competência dos detentores dos órgãos de soberania constitucionalmente habilitados a tal – poderá fazer baixar o motor do país para o “ralenti” durante um mínimo de três meses, mas esqueci-me de sublinhar que o “ralenti” é o ponto morto, o ponto em que o motor gasta energia, mínima que seja, mas não sai do sítio.

Mais do que nunca, num inevitável cenário de serviços mínimos, é preciso que o sentido de Estado prevaleça e que não haja, seja em que circunstância for, a tentação de alterar o que, reconhecidamente de bom já tenha sido adoptado ou esteja proposto. Só assim, poderemos minorar os efeitos destes três meses em ponto morto que se anunciam.

Luís Lima
Presidente da APEMIP

Publicado dia 26 de março de 2011 no Jornal de Notícias

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