O subsídio de Natal de 2011 ainda não está a ser processado e já os ratados subsídios de férias e de Natal de 2012 andam nas bocas do Mundo. Por exemplo, em Barcelos, onde o presidente da Câmara Municipal, eleito pelo principal partido da Oposição, mas contando com o apoio de todos os partidos representados na edilidade, pede um regime de excepção para que os cerca de 800 funcionários municipais não percam aqueles subsídios.

Em causa está uma verba de um milhão de euros, seguramente inferior à que a TAP Air Portugal precisará para evitar que muitos dos seus pilotos voem para a concorrência, em especial para as companhias que não se preparam para cortar tanto em subsídios.

Caixa Geral de Depósitos (CGD) e Banco de Portugal já teriam pedido (anteriormente e quando a questão era apenas cortes de salários) regimes de excepção para os respectivos trabalhadores. Sempre para evitar sangrias nos funcionários que, pelas suas competências, possam escolher onde trabalhar sem aquelas penalizações.

A CGD terá justificado o pedido – a fazer fé no que apareceu a público – no facto de estar a concorrer com instituições privadas, e, como tal, não obrigadas a aplicar as austeridades oficiais. Agora, com os cortes que o Orçamento de Estado alarga a todo o Sector Empresarial do Estado, a banca privada torna-se ainda mais atractiva para os quadros da CGD.

Voarão os pilotos da TAP para outras bases aeroportuárias, fugirão caixas e outros quadros da Caixa para balcões de outras redes, só não voarão para outros municípios, nesta sucessão de excepções, os funcionários da Câmara Municipal de Barcelos, cuja edilidade está disposta a pagar os subsídios de Natal e de férias do próximo ano, mesmo sem o regime de excepção.

O difícil desta crise, em parte gerada por esbanjamentos de diversa índole, é que ela não se supera com austeridades e cortes cegos, especialmente quando estes atingem os sectores da população que seguram as democracias das economias de mercado (leia-se classes médias).

Parafraseando o norte-americano Duane Elgin, que defende como opção de vida uma difícil “simplicidade voluntária”, direi que é muito diferente ir de bicicleta para o emprego por opção própria, na busca de um equilíbrio com a Natureza, ou apenas por impossibilidade de escolha de outro meio de transporte mais desejado e cómodo.

No centro das politicas devem estar sempre o bem-estar das pessoas. 

Luís Lima

Presidente da APEMIP

luís.lima@apemip.pt

Publicado no dia 30 de Outubro de 2011 no Jornal de Notícias

Translate »