Um passageiro frequente nas companhias de aviação, conversando comigo numa viagem de longo curso, daquelas que atravessam oceanos e demoram longas horas, mostrou-me uma lista de acrónimos de empresas de aviação rebatizadas de forma jocosa. Desta lista, também longa, fixei dois: o do acrónimo da grega companhia aérea OLYMPIC (Onassis Likes Your Money Paid In Cash) e o acrónimo da nossa TAP, este mais cruel, Take Another Plane.

Se a memória não me atraiçoa, julgo que viajava na antiga companhia belga SABENA, cujo acrónimo também tem uma correspondência irónica – Such A Bad Experience, Never Again (uma tão má experiência, nunca mais) – circunstância que fez com que me limitasse a esboçar um sorriso amarelo perante as gracinhas que estas traduçõesdos acrónimos pedem. Nesse tempo a TAP era uma companhia que todos procuravam e que ninguém pretendia substituir por outra como o tal Take Another Plane (apanhe outro avião, em bom Inglês) sugeria.

Infelizmente, os incidentes com voos da nossa companhia de bandeira têm vindo a multiplicar-se e embora sejam incidentes que não têm posto em perigo os passageiros e as tripulações dos voos, acabam por criar alguns constrangimentos e de por em causa a boa imagem da companhia, além dos sustos e dos atrasos sempre desagradáveis. É o voo para Luanda que, perante a suspeita de uma avaria no sistema hidráulico, regressa a Lisboa ao fim de uma hora e aterra depois de despejar combustível no mar. É o voo do Recife que tem de fazer uma aterragem não programada na Ilha do Sal quando foi detectado a bordo um cheiro a fumo…É a aterragem de emergência em Paris num voo de Lisboa para Amesterdão por alegada avaria no sistema de despressurização.

Se juntarmos a tudo isto uma recente prática de overbooking, nos últimos tempos mais visível na TAP, com todas as consequências do expediente de vender mais bilhetes do que lugares, contando com as médias das desistências, então somos tentados a pensar que aquela piada do acrónimo da TAP, a do Take Another Plane (apanhe outro avião) ganha um renovado mas muito indesejável sentido. O overbooking, como é sabido, acarreta má imagem mas também prejuízo – a companhia tem de assegurar voo alternativo, pagar as despesas que a demora causa ao passageiro e, por vezes, quando o voo alternativo não se inicia em tempo considerado razoável, indemnizar o passageiro.

Por contágio, também este aeroporto da ANA está a merecer uma irónica tradução do acrónimo. Talvez ANA signifique agora Aguente Novo Aeroporto, tal é o caos nas instalações onde, inclusivamente, faltam puxadores e higiene nas casas de banho, de acordo com o testemunho de uma minha a minha que presta serviços no Aeroporto de Lisboa.

Uma vergonha que até parece propositada. Tal como a TAP, por este caminho, a ANA também se desvaloriza e desvaloriza a imagem da cidade de Lisboa, a nossa capital, pois este aeroporto é, para muitos turistas que nos visitam, a primeira impressão do país.

E não há, como todos sabemos, uma segunda oportunidade para uma boa primeira impressão.


Luis Lima

Presidente da CIMLOP
Confederação da Construção e do Imobiliário de Língua Oficial Portuguesa
presidente@cimlop.com

Publicado no dia 12 de setembro de 2014 no SOL

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