Só a pronta e firme reação do presidente do Banco Comercial Português (BCP), Nuno Amado, em defesa do banco, como todos vimos e como todos deveríamos saudar, desarmadilhou e atenuou os efeitos secundários da notícia de um chumbo do BCP, por stress, que afinal já não se verificava no momento em que é revelado.

Cento e trinta bancos europeus, entre os quais três portugueses, foram, e muito bem, a exame. Em consequência, o conhecimento dos resultados destas provas (que são uma espécie de prova de esforço do género das que são realizadas por quem se candidata a uma intervenção cirúrgica mais delicada) foi marcado para a manhã do Domingo passado, mas uns dias antes alguém deixou escapar a notícia de que 25 deles teriam chumbado.

Criado o suspense, como num enredo de romance policial, fomos ouvindo o que sobre a matéria a Ministra das Finanças dizia aos jornalistas e muitos de nós, julgando ler nas entrelinhas, ficamos convencidos que os nossos três bancos tinham passado, tal a serenidade com que Maria Luis Albuquerque foi abordando o segredo da notícia guardada para Domingo passado.

A ministra tinha razão para estar descansada, mas não foi esse o sentimento com que ficamos quando as pautas foram afixadas e o BCP apareceu a vermelho, apesar dos examinadores saberem que este banco já tinha criado condições para aguentar o esforço nos níveis exigidos pelas provas,

A questão é que esses rigorosos exames reportam-se à situação que existia a 31 de Dezembro de 2013 sendo atirados cá para foram dez meses depois – são exames demorados, tidos por rigorosos, mas deixam de poder ostentar esse rigor quando não acautelam suficientemente os desfasamentos temporais como os verificados no caso BCP.

A capacidade de resposta, em situações limites extremas, que o banco apresentava no final do ano passado, tinha sido recuperada, por uma bem sucedida operação de aumento de capital, pelo que à data da revelação dos exames o BCP já estava bem de saúde, como os examinadores sabiam embora não lhe tenham dado grande ênfase.

Atento à sua própria saúde, neste tempo em que a simples suspeita de doença pode gerar inconvenientes gravíssimos, o Presidente do BCP reagiu com a prontidão e segurança de um líder e desativou as possíveis más consequências das informações que chegaram já erradas ao público. Nuno Amado garantiu não ser necessário fazer outro aumento de capital nem vender, forçadamente, um ativo estratégico”.

Mais tarde, soube-se que o banco português, apesar de ser um dos 25 “chumbados” estaca assinalado como tendo já criado condições para enfrentar stresses  idênticos aos simulados no exame, mas esta informação só veio a público mais tarde,

Não tivesse o presidente do BCP informado os seus clientes e o país  da forma pronta, clara e inteligente como o fez, e hoje poderíamos estar a viver em stress financeiro gravíssimo, desnecessário mas potencialmente contagiante, tudo em nome da desastrosa maneira como alguns euroburocratas lidam com estas informações.

O Banco Central Europeu (BCE) parece aquele famoso país tão ligado ao dinheiro – a Suíça – tal como alguns intelectuais o definiam há uns anos atrás, ou seja, tão rigoroso e tão limpo que até mete nojo.

Luis Lima
Presidente da CIMLOP
Confederação da Construção e do Imobiliário de Língua Oficial Portuguesa
presidente@cimlop.com

Publicado no dia 29 de Outubro de 2014 no Público

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