Imaginemos um país governado por políticos de linha branca. Ou, pior ainda, um campeonato de primeira liga de futebol em que todas as equipas apresentassem planteis de jogadores, exclusivamente constituídos por profissionais de linha branca.

Numa hipotética situação como a imaginada, dificilmente seríamos capazes de identificar a família politica deste ou daquele protagonista só pelo discurso proferido. Se já é difícil mesmo sem o branqueamento das identidades, o que não seria depois?…

E no que toca aos futebolistas? Seria desde logo muito difícil distingui-los em campo, durante um jogo, se todos entrassem no relvado equipados de branco – camisolas, calções, luvas (pelo menos para os guarda redes), meias e chuteiras brancas…
Só com o pin do clube a diferenciá-los.

Estas questões colocam-se com mais propriedade no que toca aos produtos, em regra industriais, de linha branca. Em épocas de crise despimos os embrulhos mais vistosos de alguns produtos e comercializamo-los a preço mais em conta,  numa espécie de linha low cost.

As populares viagens de avião low cost são, aliás, um bom exemplo: no essencial, pelo menos no espaço europeu, as companhias de aviação devem cumprir requisitos mínimos em certas matérias, nomeadamente na segurança, mas podem poupar nas mordomias.

Deixam de dar refeições, ou melhor, deixam de as vender incluídas no preço das viagens, começam a cumprir horários escrupulosamente (o que diminui o custo do aparcamento nos espaços aeroportuários), e, até aproveitam a viagem para oferecer aos passageiros serviços complementares pagos.

O problema não está na sobriedade dos chamados produtos de linha branca, nem sequer no corte de alguns valores, supérfluos, acrescentados, embora sabendo-se, como sabemos, que também comemos com os olhos, tenhamos de avaliar muito bem todas essas componentes subjectivas.

Quando dizemos, como há quem diga, que este ou aquele produto de beleza vende, em primeiro lugar, esperança, ou, para puxar a brasa à minha sardinha, que uma casa nova oferece, as mais das vezes, um novo conceito de vida, estamos a colorir a ausência de cor do branco.

É certo que, em épocas de crise, devemos cingirmo-nos ao essencial, mas, no que toca a estas opções pelas linhas brancas, importa estar mais atento e não escolher tão branca, tão branca que nem se saiba a origem do produto a ponto de preferirmos o de fora ao nosso.

É que, neste caso, podemos estar a poupar uns cêntimos, mas estamos a contribuir para fazer aumentar a nossa dependência externa, e até, o que pode ser dramático, a contribuir para inviabilizar muitas das unidades do nosso tecido empresarial.

Luís Carvalho Lima
Presidente da APEMIP

Publicado dia 22 de Abril de 2011 no Sol

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