Um anúncio que pretendia ridicularizar as exigências, em matéria de informação, que algumas instituições colocam a quem lhes solicita empréstimos, esmiuçando, até à quinta geração, a vida privada dos candidatos, deixou há muito de ter piada, pois passou a ser o espelho da realidade.

Por este andar, qualquer dia organizam-se castings para escolher os felizes contemplados com um pequeno ou médio crédito para aquisição de uma habitação para uso próprio, benesse só ao alcance de quem consegue provar ao banco que tem mais dinheiro do que aquele que vai pedir emprestado.

Hoje, as instituições de crédito não arriscam um milímetro. Já lá vai o tempo em que arriscavam quilómetros, na certeza de uma inflação constante e elevada que rapidamente valorizava o imóvel dado como garantia do empréstimo concedido, não raras vezes muito acima do valor total necessário à aquisição.

Nos dias que correm, o próprio imóvel já não é garantia suficiente. Exigem-se garantias acrescidas e fiadores num excesso de cautelas que inverte a própria lógica do sistema financeiro e do papel que nele devem desempenhar as instituições de crédito, com todas as consequências negativas que daí podem resultar.

A concessão de crédito é, para as Economias, tão importante e vital como a circulação sanguínea para a vida de um ser humano. Com esta certeza, importa repensar as crescentes difíceis condições de acesso ao crédito. Não podemos permitir que a cura utilize métodos fatais.

Luís Lima

Presidente da APEMIP

luis.lima@apemip.pt

 

Publicado no dia 20 de Julho de 2011 no Diário Económico

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