Há quase quarenta anos, no ano de 1975, Portugal recebeu um enorme número de portugueses, vindos de África, num regresso a casa que se estima tenha atingido um universo entre oitocentos mil e um milhão de pessoas. A integração destes “retornados”, que rondavam os dez por cento da população que os acolheu, surpreendeu pela positiva quem a testemunhou, interna e externamente.

Como escreveu há anos o escritor e jornalista Fernando Dacosta, num artigo sobre o fenómeno dos retornados, “a emigração, a guerra e o exílio tinham despovoado Portugal”. Em sentido inverso, como também é referido, os retornados portugueses de África atenuaram “as chamadas dinâmicas regressivas que então se observavam entre as nossas populações”.

Num trabalho do Instituto de Estudos Para o Desenvolvimento, citado por Dacosta, os retornados revelaram-se “mais qualificados, não só que a população emigrada, mas também que a restante população portuguesa”. Qualquer movimento migratório desta grandeza acaba por empobrecer o ponto de partida e enriquecer o ponto de destino.

Na última década terão abandonado o país mais de um milhão de portugueses. E Portugal é, depois da Irlanda, o país da OCDE que vê fugir mais cérebros. Tudo isto é muito preocupante, sabendo-se, como se sabe, que a maior riqueza de um país é a população que nele vive e pode contribuir para a riqueza que o próprio país pode produzir.

Um Estado é um povo com uma língua e uma terra comuns. Portugal são os portugueses, neste jardim à beira mar plantado, gente que sonha, pensa e fala em Português. Não somos os únicos a falar Português, mas somos os únicos a falar Português neste nosso território, o mais antigo território europeu considerando as atuais fronteiras.

É por isso que somos todos necessários, mesmo ou principalmente quando estamos ausentes, seja pelo exílio, seja pela guerra, seja pela emigração, para usar as três principais causas do despovoamento de uma terra. É por isso que é preocupante esse sangramento de mais de um milhão de portugueses na última década, mesmo que alguns o considerem uma espécie de válvula de escape para a crise.

Foi por isso que aquele enorme número de portugueses que há quase quarenta anos regressaram a Portugal, num contexto muito difícil para eles, num contexto difícil para todos, conseguiram integrar-se plenamente, mesmo perante as enormes e duras dificuldades desse tempo, e contribuíram para, objectivamente, fazer um Portugal melhor. São sempre os portugueses quem tem de fazer um Portugal melhor.

Luís Lima

Presidente da APEMIP e da CIMLOP

Confederação da Construção e do Imobiliário de Língua Oficial Portuguesa

luis.lima@apemip.pt

Publicado no dia 04 de janeiro de 2013 no Sol

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