Oficialmente, em nome de muitas e variadíssimas razões, mas nunca assumindo que seja para obter benefícios fiscais, a quase totalidade das empresas do índice de referência da bolsa portuguesa sediam sociedades dos respectivos grupos no estrangeiro. Em regra, empresas gestoras de participações e outras igualmente do sector financeiro.
Esta prática, muito pouco ortodoxa, nomeadamente para grupos cujas figuras tutelares, umas mais do que outras, costumam e gostam de opinar sobre os caminhos que a Economia Portuguesa deve trilhar, não é recente. Lembro-me até de a ter comentado, em Nova Iorque, num encontro que mantive, em finais de 2010, na delegação local da então existente Agência para o Investimento e Comercio Externo, onde fui recebido pelo Dr. Rui Baptista Marques.
Já era bem visível que o peso e o prestígio de muitas dessas empresas portuguesas não revertia a favor de Portugal, pelo menos no tocante da avaliação que sobre elas já era feita pelas agências de notação. Fraquezas de empresas e grupos fortes que não hesitam em procurar paraísos fiscais para ficarem ainda mais fortes. Economicamente, entenda-se, pois no plano da ética empresarial tudo isto deixa muito a desejar.
Tão chocante como a enorme dimensão deste “êxodo” empresarial são os eufemismos utilizados para mascarar a verdadeira razão deste enorme “patriotismo”, passe a ironia, razão que, não é difícil adivinhar, passa pelo alivio da carga fiscal. Os empresários ou administradores das empresas que acederam a comentar a notícia para o jornal que dela fez grande reportagem, preferem falar em estratégias de internacionalização, em flexibilidades operacionais ou até – imagine-se – na expressão diplomática do pais de destino.
Que contraste com a atitude de homens de negócios, como Warren Buffett, dito o terceiro homem mais rico do Mundo, que pediu aos políticos para deixarem de mimar os ricos com isenções fiscais, especialmente nos momentos em que parece necessário apelar ao sacrifício das populações para repor equilíbrios orçamentais.
As propostas – essas sim patrióticas e lúcidas – de Warren Buffett, dificilmente encontrariam unanimidade nos empresários ou nos administradores das empresas portuguesas que marcam o principal índice da nossa bolsa. A maioria dos responsáveis das empresas que marcam o principal índice da bolsa portuguesa devem ter morrido de riso com as propostas da Buffett, mesmo suspeitando que quem ri no fim é que ri melhor.
Luís Lima
Presidente da APEMIP
luis.lima@apemip.pt
Publicado no dia 02 de Setembro de 2011 no Sol