O entusiasmo de quem, com paciência, tenta unir as milhares de peças de um imenso puzzle a que nos dedicamos com empenho, por gostarmos do desafio de concluir puzzles gigantes ou por gostarmos da imagem do puzzle em causa, não pode extinguir-se se, numa inesperada e forte corrente de ar, algumas das peças já colocadas no respectivo lugar voltam para o monte das peças que aguardam a colocação certa.

Muitos portugueses, entre os quais muitos empresários de muitas pequenas e médias empresas portuguesas, andam, há muito, com entusiasmo e paciência, a tentar resolver um puzzle gigantesco, de milhares de peças, cuja configuração final já chegou a ver-se de forma clara e esperançosa pouco antes de uma recente, inesperada e fortíssima rajada de vento que inevitavelmente veio atrasar a tarefa da sua desejada e necessária conclusão.

Não sabemos quantas peças compõem este enorme puzzle. Sabemos que são muitas, na ordem das milhares, e sabemos que a imagem final desta paciência apaixonante corresponde à imagem do mapa do nosso Portugal, esse rectângulo quase perfeito que ocupa parte do Oeste e o Sudoeste da Península e que o Mundo culto reconhece como um jardim à beira mar plantado, na feliz analogia ou metáfora de um dos nossos maiores poetas.

A dificuldade na resolução de um puzzle com tantas peças não pode dar lugar à desistência se, a meio do desafio, quando estamos num ponto em que é importante prosseguir para mantermos intactas as esperanças na mais rápida conclusão da tarefa, por um descuido inexplicável, talvez por ação de uma manga descaída do nosso próprio casaco, uma parte significativa das peças já colocadas em seu sítio regressa ao caos das peças baralhadas.

O imenso puzzle por resolver em que Portugal está, nos últimos tempos, dividido, é certamente um desafio muito difícil mas que tem de ser concluído, sem esmorecimentos. Às vezes as peças não encaixam bem, ou encaixam bem mas o lugar certo delas não é aquele que inicialmente imaginávamos. A solução, nestas charadas, não é a desistência nem, muito menos, deitar fora algumas peças – nenhuma peça é dispensável neste puzzle.

Na verdade, gostemos ou não deste trabalho de paciência que consiste em reconstruir uma grande imagem a partir de pequenas partes do todo, este é um desafio a que não podemos fugir e para o qual temos de estar preparados, mesmo que nos enganemos no caminho ou que pelo caminho certo venhamos a encontrar dificuldades que nos fazem atrasar (nunca desistir) com as quais jamais contávamos.

Nestes momentos, em que nos sentimos prostrados, o mais importante é recuperar rapidamente as forças possíveis para reerguer a nossa determinação, desafio que exige muitos mais e muito mais concretos sinais de esperança, ou seja, a evidência de que estamos mesmo decididos a reconstruir o nosso puzzle e não apenas a dizer que queremos reconstrui-lo. Neste desafio, todos, principalmente aqueles que sempre estiveram de boa fé, são necessários.

Nenhuma peça pode ser dispensada ou entrar mutilada neste enorme desafio.

Luís Lima
Presidente da CIMLOP
Confederação da Construção e do Imobiliário de Língua Oficial Portuguesa
presidente@cimlop.com

Publicado no dia 18 de agosto de 2014 no Jornal i

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