António Borges, que partiu, inesperadamente para muitos, na madrugada do passado domingo, deixa-nos um legado invulgar – o exemplo de alguém, muito bem preparado intelectualmente, que defende até ao fim aquilo que acredita ser o melhor para o país, mesmo que essa defesa lhe cause muito desamor quando mais precisaria do contrário.

Mais do que um político, apesar de ter ocupado cargos muito relevantes na vida política e de ter recusado desafios ainda mais mediáticos neste universo, António Borges foi um universitário, professor e investigador, que trouxe para a política a força dos debates que têm de ser aprofundadamente tratados mesmo que tal possa ser verdadeiramente muito impopular.

Sendo uma das principais referências académicas da direita liberal portuguesa, posto que preferisse considerar-se um social-democrata moderno, António Borges aceitou ser o rosto mais visível de uma solução, não consensual, para a crise que Portugal vive, sem receio de enfrentar oposições, incluindo de gente nada preparada para o rebater seriamente.

Este sacrifício de ter de suportar (em nome de uma convicção e num momento potencialmente difícil) críticas que tantas vezes lhe foram formuladas de forma exclusivamente emotiva, principalmente quando proferidas por pessoas não preparadas para poder contra argumentar no mesmo plano, é, como exemplo, um dos legados que nos deixa.

Independentemente da possível convergência ou divergência, o que devemos realçar nesta lembrança de um Português, mais reconhecido no estrangeiro do que em Portugal, é a liberdade de defendermos as nossas convicções até ao fim.

Luís Lima
Presidente da CIMLOP
Confederação da Construção e do Imobiliário de Língua Oficial Portuguesa
presidente@cimlop.com

Publicado no dia 31 de Agosto de 2013 no Expresso

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