Dizem que é o pior dos pecados mortais e, na verdade, há indícios fortes que apontam nesse sentido. Dizemos, ou há quem seja capaz de o dizer, que somos gulosos, confessando o pecado da gula, que somos preguiçosos, confessando o pecado da preguiça, que somos vaidosos, confessando pequenas e médias vaidades, mas ninguém é capaz de se confessar invejoso. Ninguém diz “sou invejoso”, nem mesmo um tímido “sou um pouquinho invejoso”.

E, no entanto, até mascaramos a inveja sob a capa de um certo moralismo. “Eu cá não sou nada invejoso, mas que eles ganham muito, lá isso ganham”. Desta opinião a uma sentença definitiva, sem apelo nem agravo, a distância é curta. E estas sentenças podem ser lavradas em manchetes de jornais amarelos, para usar a terminologia anglo saxónica para os jornais tablóides.

Ainda sou do tempo em que se comentava, com alguma ironia os jornais tablóides, dizendo que um periódico desta natureza tinha de verter sangue quando espremido como uma peça de roupa acabada de sair da máquina de lavar. Hoje, já não “deita” sangue mas verte fel, bílis, isto é, um líquido viscoso, muito amargo, de cor castanho-esverdeado.

Ainda há dias, neste mesmo jornal, li uma pequena nota sobre o triunfo da inveja em estado puro que subscrevo, e que me fez abordar este tema. Referia-se o autor a uma certa inveja plasmada em letra de forma, contra quem aparenta ou tem mesmo sucesso, inveja que se materializa nas “denúncias” dos grandes ordenados dos outros, sejam pontas de lançam de grandes clubes, sejam gestores de empresas privadas lucrativas.

É o registo da lamúria e do pessimismo a alimentar-se, muitas vezes, de aparências, sem qualquer fundamento. Os ganhos, excessivamente injustos, são, em regra, uma excepção que não confirma qualquer regra e a sua denúncia um factor negativo, até para a própria economia.

Luís Carvalho Lima
Presidente da Direcção Nacional da APEMIP

Publicado dia 31 de Março de 2010 no Diário Económico

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