Há quatro anos, mais precisamente a 11 de Dezembro de 2009, estreou nos Estados Unidos o filme Invictus, de Clint Eastwood, com Morgan Freeman no papel de Nelson Mandela e Matt Damon no papel de François Pienaar, o capitão da Seleção Sul Africana de Rugby, que viria a sagrar-se campeã do Mundo em 1995, no campeonato realizado na Africa do Sul logo após o fim do apartheid e durante a presidência de Mandela.

Por estes dias, muitos canais de televisão, em todo o Mundo, têm vindo a passar o filme integrando-o nas múltiplas homenagens que estão a ser prestadas a Nelson Mandela, um dos maiores estadistas do século XX, pai fundador de uma África do Sul multirracial e político exemplar pela capacidade de liderar e de unir, quando os ventos pareciam apontar para a divisão e para ajustes de contas que muitos considerariam inevitáveis e naturais.

Baseado em acontecimentos reais e num livro de John Carl que os recriou (“Conquistando o Inimigo”), o filme realça a inteligência afetiva de Mandela quando, contra tudo o que seria mais previsível, empenha-se em mobilizar a população negra sul africana para apoiar a Seleção Sul Africana de Rugby, uma equipa e um desporto identificados com as antigas elites brancas, conseguindo unir o país de tal forma que a África do Sul torna-se Campeã do Mundo de Rugby, o que também era impensável.

Este empenho de Nelson Mandela – um homem que esteve preso quase 30 anos por lutar contra o apartheid e que, chegado ao Poder, não esboça a mínima intenção de vingança preferindo canalizar toda a sua força moral e ética na difícil tarefa de unir a população de um país que viveu tantos anos compulsivamente separada – este empenho de Nelson Mandela não tem sido, infelizmente, contagiante, mesmo considerando que mais de 90 chefes de estado fizeram questão de comparecer neste último adeus.

Nunca se pede ou se pediria tanto – registe-se. Bastaria aproximações menos difíceis de concretizar, mas tão importantes para ultrapassar a crise económica que parece estar instalada na Europa. Bastaria que aparecessem políticos capazes de assumir compromissos que apontassem para que todos pudessem perder menos. Bastaria um pouco mais de inteligência afetiva em alguns daqueles 90 chefes de Estado e de Governo que foram prestar homenagem a Nelson Mandela para que se reacendesse mais esperança em muitas partes do Mundo.

Na verdade, nos momentos difíceis para os povos e para as nações é uma sorte, poucas vezes concretizada, poder contar com a força de líderes políticos que são intrinsecamente estadistas, ou seja, que possuem uma visão de Estado abrangente indispensável à maior de todas as tarefas da política – conciliar os interesses legítimos de todos nós. O que mais dói nesta despedida a Nelson Mandela é saber que o lugar que ele deixou pode não voltar a ser ocupado tão cedo, mesmo considerando todos os estadistas do Mundo como potenciais candidatos.

Há momentos na vida dos povos e das nações em que não basta tentar. É preciso conseguir. É isso que torna Mandela raro. É disso que vamos ter, todos e em todas as paragens, muitas saudades dele.

Luís Lima
Presidente da CIMLOP
Confederação da Construção e do Imobiliário de Língua Oficial Portuguesa
presidente@cimlop.com

Publicado no dia 20 de Dezembro de 2013 no Sol

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