Se alguém é obrigado a vender um produto a preço inferior ao do custo, o preço que vier a aceitar jamais poderá ser considerado o preço do mercado. Não se fazem preços com a corda na garganta, com uma pistola encostada ao peito ou sob aquela velha máxima que aconselha a que, em certas circunstâncias, deixemos ir os anéis em vez dos dedos.

Isto é válido para tudo, incluindo para o mercado imobiliário, e, neste último caso, para aqueles que são forçados a ter algum peso no lado da oferta, sem estarem vocacionados para tal e possuindo o produto que lhes chegou a um preço excepcional, muito abaixo do preço do custo, num cenário de cordas ao pescoço ou de pistolas apontadas à cabeça.

Que se espreite as pechinchas e as oportunidades que todas as crises geram, na desgraça dos que caíram ou foram forçados a cair em situações de quase desespero, ainda se entende, mas aproveitar este condicionalismo para forçar o mercado a assumir como normais, preços que estão abaixo do preço do custo é quase criminoso, sendo também um factor desestabilizador do próprio mercado que todos, mais cedo ou mais tarde, iremos pagar com juros altíssimos.

O preço de mercado de um Picasso, descontando alguma especulação que sempre haverá na subjectividade dos mercados da arte, jamais poderá ser o preço que, plausivelmente possa vir a ser pedido, quando a proveniência do quadro em questão é pouco clara ou mesmo ilegítima. Este exemplo, mesmo que excessivo, é, talvez, o mais adequado aos tempos que vivemos.

Luís Lima
Presidente da APEMIP
luis.lima@apemip.pt
 

Publicado no dia 8 de Junho de 2011 no Diário Económico

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