A melhor vista da Montanha do Pico, na ilha açoriana homónia, é aquela que se vê da cidade da Horta, na Ilha do Faial, e a melhor vista do Porto aquela que vê quem “vem e atravessa o rio junto à Serra do Pilar”, no feliz verso de Carlos Tê que Rui Veloso canta.

Numa Reforma Administrativa serena, a Serra do Pilar ficaria no Porto, num Porto margem Sul, e até – quem sabe – Matosinhos Sul, que o imobiliário chegou a baptizar de Foz Nova, poderia vir a ser também Porto, um Porto Norte. Tudo isto seria pacificamente aceitável se bem discutido. E se há sector sensível para estas nuances, o do imobiliário é um deles.

Num quadro de ordenamento harmonioso do território, o peso subjectivo que resulta da localização de um imóvel não varia significativamente se o imóvel se ergue na margem direita ou na margem esquerda de um rio, como acontece em Budapeste, relativamente ao Danúbio, mas não acontece entre o Porto e Gaia relativamente ao Douro.

Senti tudo isto quando, há dias, visitei em Gaia um empreendimento imobiliário de elevadíssima qualidade, com vistas soberbas, que está a ser comercializado a preços artificialmente esmagados, fruto de algumas estratégias e alguns erros bem comuns no presente, mas também fruto da circunstância de se erguer na margem esquerda.

A polémica Reforma Administrativa Local, pelo menos em zonas rurais onde a extinção de freguesias volatilizará a presença do Estado, seria muito menos polémica se mobilizasse forças para uma discussão serena em torno das potencialidades que se abrem com outro ordenamento territorial de regiões como a do Grande Porto.

Quem, nascido em Gaia ou em Matosinhos, para citar apenas dois municípios do Grande Porto, quiser dizer de onde é, a alguém que acaba de conhecer, longe da terra natal, no estrangeiro ou mesmo em Portugal, tem a natural tendência para referir que é do Porto, sem qualquer sombra de pecado.

Esta é a lógica normal da consolidação das grandes cidades. Budapeste, a capital da Hungria que acima citei, nasceu em 1873 da fusão de Buda, na margem direita, com Peste, na margem esquerda do Rio Danúbio, um dos mais famosos da Europa, atravessado naquela zona por dez pontes.

O Rio Douro, entre Porto e Gaia, já tem seis pontes, mas ainda não conseguiu encontrar as dinâmicas de desenvolvimento de um espaço administrativo único que sabe integrar um rio, como o Douro ou como o Danúbio, olhando-o não como um muro de águas profundas que separa mas como mais uma ponte que une.

Tal como a cidade de Budapeste – a sexta maior da União Europeia – que é hoje muito mais do que a soma do que seriam Buda e Peste se se tivessem mantido separadas como até 1873, também o Porto, alargado à margem Sul do Douro e até para Norte da Estrada da Circunvalação, pode ser muito mais do que a soma destas partes.

Luís Lima 

Presidente da APEMIP e Presidente da CIMLOP

Confederação da Construção e do Imobiliário de Língua Oficial Portuguesa

Luis.lima@apemip.pt

 

Publicado no dia 14 de novembro de 2012 no Público

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