Um terço das empresas portuguesas que forneceram  a Informação Empresarial Simplificada (IES), no ano de 2011, apresentavam um EBITDA negativo, ou seja, lucro negativo antes dos juros, impostos, depreciação e amortização, que é o que a sigla deste indicador significa.

Mesmo tendo em conta que este indicador pode dar imagens menos rigorosas sobre a real liquidez das empresas, a verdade é que ele é muito importante para avaliar as perspetivas do negócio, contribuindo também para aferir da produtividade e eficiência da própria empresa.

Esta realidade faz subir o preço dos prémios de risco a cobrar pela banca quando se disponibiliza a financiar essas empresas, para valores quase insuportáveis para a generalidade das empresas, e trava a eficácia e a bondade da banca que se diz apta a conceder crédito à Economia (leia-se empresas), desde que existam projetos empresarias de risco aceitável ou, na linguagem fria da Economia, compatível.

Quando estas questões são aprofundadas fala-se na necessidade de se promoverem associações, fusões ou até mesmo absorções de algumas empresas por outras para que o tecido empresarial possa fortalecer-se  e oferecer maiores garantias a quem empresta. Raramente se ouve falar em aumentos, ligeiros, que seja, do risco a assumir do lado de quem financia.

Ainda há dias li, a propósito de um encontro de grandes bancos portugueses, que estes assumem que estão aptos a conceder crédito à economia, que os preços desse mesmo crédito até estarão a baixar um pouco e que a banca já compete entre si nas condições que oferece… Mas como não há bela sem senão, parece que faltam é projetos empresariais sem grandes riscos.

Eu diria, olhando de outro ângulo, que é preciso que a própria banca eleve um pouco a fasquia do risco que está disposta a assumir. A própria banca tem exemplos positivos do que se consegue com esta aproximação de interesses. Estou mesmo tentado a referir o exemplo da linha de microcrédito desenvolvida pelo Banco Espírito Santo (BES)  que já concedeu 11,1 milhões de euros distribuídos por 630 projetos que permitiram a criação de 1.100 empregos.

É apenas um exemplo, com a escala de um projeto virado para o microcrédito, mas é um exemplo que os números fornecidos pelo próprio banco apontam claramente que o acréscimo de risco assumido, sempre inerente a este universo dos microcréditos e até das pequenas e médias empresas,  é largamente compensado pelos benefícios imediatos.

Esta linha específica de microcrédito aposta, como é conhecido, no apoio a ideias com visibilidade económica, que satisfaçam necessidades locais não satisfeitas e que sejam protagonizadas por empreendedores, em regra jovens, com dificuldades no acesso ao crédito pelas vias tradicionais. É um bom e positivo caminho mas ainda insuficiente para alavancar a Economia nacional com a força que é preciso aplicar para levantá-la de novo.

Não duvido que é preciso um pouco mais de risco, mas há momentos na vida em que o risco não pode ser evitado e tem de ser conscientemente assumido.

Luís Lima
Presidente da APEMIP e Presidente da CIMLOP – 
Confederação da Construção e do Imobiliário de Língua Oficial Portuguesa
luis.lima@apemip.pt

Publicado no dia 01 de março de 2013 no Sol

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